O Hamas anunciou que vai entregar esta quinta-feira os corpos de quatro reféns e de outros quatro na próxima semana. Para este sábado está prevista a libertação de seis reféns vivos, o dobro do previsto. A troca de reféns e prisioneiros enquadra-se na chamada primeira fase do cessar-fogo, cujo prazo termina no dia 1 de março. O chefe do Hamas em Gaza, Khalil al-Hayya, disse à Al Jazeera que entre os corpos a entregar estão os da mãe e dois filhos da família Bibbas, mortos em novembro de 2023 por um bombardeamento israelita. O marido, Yarden Bibbas, foi libertado em janeiro no âmbito deste acordo de cessar-fogo.
A negociação das próximas fases, ainda sob os auspícios da mediação do Egito, Qatar e EUA, poderá começar ainda esta semana e segundo a Al Jazeera o Hamas está pronto a trocar de uma só vez todos os reféns que ainda mantém em Gaza por um acordo de trégua permanente e a retirada das tropas israelitas de Gaza. Em Israel, as famílias dos reféns exigiram a Netanyahu “uma clarificação urgente quanto à continuidade do acordo” e consideram que um fracasso nas negociações poderá pôr em risco a vida dos seus familiares.
Palestina
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A. Dirk Moses
Até agora o governo israelita adiou o envio de uma equipa negociadora para a segunda fase e resiste a negociar uma trégua permanente que deixe o Hamas no poder em Gaza, preferindo um cenário de continuação da libertação de reféns a conta-gotas com o prolongamento da primeira fase. A extrema-direita israelita quer regressar o quanto antes à guerra genocida, agora entusiasmada com as ideias de Trump acerca da expulsão permanente dos palestinianos e a transformação de Gaza numa oportunidade de negócios imobiliários à beira-mar. Mas as sondagens, que costumam pesar nas decisões de Netanyahu, apontam uma grande maioria dos israelitas a favor da continuidade do acordo até ao regresso de todos os reféns.
Segundo o diário israelita Haaretz, o acelerar da entrega de reféns e corpos por parte do Hamas pode significar que já obteve concessões em troca, seja a garantia da entrada de tendas e maquinaria pesada que tem vindo a ser bloqueada por Israel, impedindo a limpeza e remoção dos destroços dos bombardeamentos, seja outro tipo de garantias políticas quanto ao futuro das negociações.
Violações do cessar-fogo em Gaza, destruição de casas na Cisjordânia
As forças de segurança palestinianas citadas pela Al Jazeera dão conta da repetida violação do cessar-fogo por parte das tropas israelitas em Gaza, tendo registado 266 ações armadas desde o seu início a 19 de janeiro. Estes raides na Faixa de Gaza provocaram a morte de 132 palestinianos e fizeram mais de 900 feridos.
A maioria destas violações do cessar-fogo ocorreram na parte central de Gaza (110), seguindo-se 54 em Rafah, 49 na cidade de Gaza, 19 em Khan Younis e 13 no norte da Faixa.
Genocídio
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Com o início do cessar-fogo em Gaza intensificaram-se os ataques israelitas contra grupos da resistência na Cisjordânia. A incursão das tropas sionistas no campo de refugiados de Jenine já dura há um mês e resultou na morte de 26 palestinianos e dezenas de feridos, além da destruição de casas que obrigaram ao deslocamento de milhares de civis, relata a agência Wafa. Alem dos carros de combate e drones, as forças da ocupação trouxeram bulldozers que diariamente arrasam casas e lojas. Os habitantes falam de um padrão de destruição aleatória no campo de refugiados e arredores, com a destruição completa de infraestruturas e casas incendiadas e demolidas com o objetivo de tornar a zona inabitável. Calcula-se que três mil famílias terão ficado sem teto.
Também nos campos de refugiados de Tulkarem e Nour Shams, a incursão militar israelita já dura há semanas e com o mesmo cenário de casas destruídas à bomba, incendiadas ou demolidas, enquanto as tropas vagueiam pelas ruas a abordar em especial os jovens transeuntes para os identificar e interrogar no local, havendo denúncias de abusos cometidos, Em várias localidades da Cisjordânia há relatos da entrada de tropas israelitas para demolir casas e lojas e arrasar terras de cultivo, bem como de uma escalada de violência dos colonos extremistas que procuram alargar a área que ocupam.
O porta-voz da Presidência da Autoridade Palestiniana alertou para esta “campanha de destruição sistemática de casas e desalojamento de cidadãos” perante “o silêncio internacional sobre os planos israelitas para implementar o seu plano de expansão e anexação racista, na sequência dos crimes de genocídio que cometeu na Faixa de Gaza”.
Abu Rudeineh apelou ao governo dos EUA que intervenha para parar a agressão israelita em curso “em vez de incitar à continuação da agressão, o que levará a uma situação explosiva e incontrolável em que toda a gente pagará o preço”. O mesmo porta-voz condenou a autorização dada pelos ocupantes para a construção de 974 fogos no colonato de Efrat, considerando-a um prolongamento dos planos da ocupação com vista a impor um política de facto consumado.
Em Israel, o deputado no Knesset Ofer Cassif, do partido da esquerda árabe Hadash-Ta’al, denunciou “a violência e limpeza étnica em massa que está em curso na Cisjordânia”, apelando ao mundo para que “acorde e pare o desastre em curso imediatamente”.