Esta sexta-feira, um ataque do exército israelita a um edifício residencial na cidade de Gaza matou mais dez pessoas. Outros ataques também a zonas residenciais, em Rafah e Khan Younis, mataram mais onze. Há ainda relatos, na Al-Jazeera, de várias vítimas depois de um ataque a uma casa no campo de refugiados de Shati, perto da mesquita al-Sousi.
Os militares sionistas deram também ordem de evacuação do Hospital al-Shifa, o maior de Gaza, cercado há cinco dias. Uma operação que já matou 160 pessoas e na qual foram presas 600, incluindo pessoal médico e refugiados, escreve a mesma fonte.
Ao mesmo tempo, a UNRWA, agência da ONU para os Refugiados Palestinianos, continua a denunciar a situação no terreno, classificando agora o que se passa no norte do território como “para lá de desesperado”.
No sul, o cenário é igualmente dramático. James Elder, porta-voz da Unicef, em visita a Khan Younis, diz sentir-se “esmagado pela perda”. Comentando imagens da cidade afirma: “não preciso explicar o que estão a ver agora em Khan Younis. É óbvio. Aniquilação total.”
“Moving around these streets, I'm overwhelmed by loss.”
UNICEF Spokesperson @1james_elder in Khan Younis, Gaza. pic.twitter.com/4xkxHrbIDD
— UNICEF (@UNICEF) March 21, 2024
Neste mesmo dia, Israel declarou que 800 hectares de terreno no norte do Vale Jordão, na Cisjordânia, passa a ser propriedade do seu Estado, a maior apropriação oficial de terras em décadas. A organização israelita Peace Now diz que 2024 “marca o auge na extensão de declarações de terras como sendo estatais”, os valores mais altos desde os acordo de Oslo em 1993.
O ministro palestiniano dos Negócios Estrangeiros, citado pela Reuters, diz que isto é “uma continuação do extermínio e do deslocamento do nosso povo da sua pátria”.
Este responsável acrescenta que “o falhanço internacional em proteger o nosso povo é cumplicidade e encobrimento para a invasão de punição de Israel”.
Vetos dos EUA deram lugar a apelo a “cessar-fogo imediato”, mas associado à libertação de reféns
Depois de terem sido consistentemente a força de bloqueio a que uma resolução sobre um cessar-fogo em Gaza fosse aprovada no Conselho de Segurança da ONU, os EUA passaram a apelar a um “cessar-fogo imediato”.
Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, está de visita à região e deu a conhecer ao Al Hadath, um portal noticioso da Arábia Saudita, depois do encontro com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro do país, que foi já apresentado um projeto de resolução nesse sentido “associado à libertação dos reféns”.
Blinken diz que isto daria um “sinal forte”, acrescentando que os EUA estão empenhados numa “solução duradoura para a crise e na criação de “um futuro Estado palestiniano” que dê “garantias de segurança” a Israel.
Esta sexta-feira, o governante dos EUA reuniu com Netanyahu e com o gabinete de guerra sionista. Tendo antes frisado a situação de “insegurança alimentar” da população de Gaza e dito que “não podemos permitir que isto continue”.
The situation in north #Gaza is beyond desperate.@ScottAnderGaza met @UNRWA staff still working despite unspeakable challenges & visited Kamal Adwan Hospital.
Fuel & medical supplies were delivered, but aid is just a trickle. Food needs to reach the north NOW to avert famine. pic.twitter.com/O3Vt6n9xCV
— UNRWA (@UNRWA) March 22, 2024
União Europeia dividida
Já a União Europeia continua dividida quanto à posição a tomar sobre o massacre. O Público.es salienta que na última cimeira, em outubro, a posição consensualizada se limitou a ser de um apelo a Israel para a criação de corredores humanitários e de pausas humanitárias para que pudesse ser distribuída ajuda à população. “O léxico mais descafeinado possível”, destaca aquele órgão de comunicação social.
Na sua análise da situação, ao início de nova cimeira, há três grupos diferentes de países dentro do espaço comunitário: o encabeçado por Irlanda e Espanha, que pretende que seja adotada uma linguagem mais dura; o contrário, com Áustria e Hungria à frente, que não quer conclusões fortes; e um terceiro com posições mais oscilantes.
A indecisão contrasta com as declarações do Alto Representante para os Assuntos Externos da UE, Josep Borrell, que diz claramente: “antes da guerra, Gaza era a maior prisão ao ar livre. Hoje é o maior cemitério. Um cemitério para dezenas de milhar de pessoas e para os princípios mais importantes do Direito Internacional”. Ele denunciou também a utilização da fome como “arma de guerra” por Israel.
De acordo com as fontes daquele jornal, as divisões continuam sobre incluir numa declaração a condenação de uma operação terrestre em Rafah ou a defesa da UNRWA, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos que tem sido alvo preferencial dos ataques de Israel.