Ao mesmo tempo que os imigrantes são vítimas de ataques racistas e xenófobos, mesmo num país como Portugal que em ditadura viu várias gerações espalharem-se pelos vários continentes à procura de melhores condições de vida e liberdade, continuando em democracia e liberdade a procurar melhores salários e futuro mais digno., ainda prolifera o ódio e a mentira orquestrada pela extrema-direita contra quem em Portugal paga impostos e contribui para a economia, procurando paz, liberdade, democracia e sobretudo, condições de vida e sobrevivência que lhes são negadas nos seus países de origem.
Neste quadro de promoção do medo no seio dos portugueses, face a imigrantes indefesos, que se sujeitam a condições de trabalho e de habitação muitas vezes desumanas, explorados por redes organizadas dos seus próprios países e por portugueses de “bem”, hipocritamente sem escrúpulos, que a extrema-direita sadicamente não reconhece e raramente são noticia, para facilitar campanhas orquestradas anti-imigrantes ou refugiados, normalizando atos de violência e intolerância sobre o mais desprotegidos, que, como os portugueses começaram por fazer nos anos 60, só querem poder viver e trabalhar, para com o que resta do baixo salário e do elevado custo de vida por cá, conseguirem ainda ajudar economicamente as suas famílias entre a pobreza, a repressão e a guerra. Estes são os alvos fáceis da extrema-direita.
Esta é uma inquietante pressão obscurantista que cresce na sociedade, baseada no medo, no ódio e na intolerância, à qual urge contrapor a tolerância, exercício de cidadania, formação e pedagogia em meio escolar, nomeadamente através do fomento e desenvolvimento da convivência multicultural que cada vez mais se vive nas escolas, contrariando com naturalidade e em liberdade, as influências da violação dos direitos humanos que representam as teses e práticas instigadoras do racismo e xenofobia, bem como todas as consequências do negacionismo.
O caminho facilitador à extrema-direita tem certamente diferentes variantes e origens, mas a esperança na sua desmistificação não pode desvalorizar o papel da Escola Pública nesta importante e fundamental missão junto das suas comunidades escolares, educativas e locais. Esvaziar a Escola dessa tarefa, tem sido o propósito e objetivo dos governos autocráticos, que querem caminho livre de obstáculos que verdadeiramente temem, como o pensamento livre, a liberdade e democracia, que resistem à intolerância e repressão.
É pois com agradável satisfação, ver em meio escolar, contribuir para a afirmação e valorização da interculturalidade, a exemplo da escola que melhor conheço, Escola EB 2º Ciclo António Dias Simões, do Agrupamento de Escolas de Ovar, que termina o ano letivo (2023/2024) com um projeto da turma 6º C, que tem todas as razões e motivos para ser continuado e aprofundado nos próximos anos letivos, de forma mais abrangente e envolvente junto da sua comunidade escolar, educativa e local.
“Quem somos?”, foi a pergunta para os alunos desta turma em diferentes áreas, fazerem o “Retrato da Nossa Escola…”, tema para, “Um Mundo bem melhor…”, segundo a canção “We Are The World…”, que no caso desta escola em Ovar, os alunos naturais portugueses partilham de forma natural o espaço escolar, com jovens alunos ciganos ou naturais do Brasil, Venezuela, Ucrânia, Geórgia, Bangladesh, Síria, Argentina, Congo, Colômbia, Angola e Espanha.
Neste caso, trata-se de um projeto em que os alunos identificam várias particularidades da confraternização e amizade entre crianças e jovens estudantes oriundos de vários continentes, permitindo-lhes alargar conhecimentos de outras diferentes culturas, não só através da participação de tais comunidades de imigrantes nas atividades escolares, como vivência em sala de aula ou no recreio, contrastando com os medos, o ódio, a xenofobia e o racismo que a extrema-direita vai estimulando a saltar pró interior da Escola, na linha das teses dos movimentos negacionistas, “Escola sem partido”, que ganharam particular expressão no Brasil bolsonarista. Uma tese a desconstruir com muito debate em meio escolar, tal é o ódio aos professores.
Os alunos envolvidos neste projeto, através de atividades interdisciplinares, fazem o referido “Retrato da Nossa Escola…” com a sua própria experiencia pessoal e coletiva da realidade multicultural na Escola, e com exercícios dos trabalhos de campo, através de inquéritos que permitem ter potenciais indicadores sobre a realidade do racismo e discriminação em Portugal, cujos gráficos não negam tais preocupações politicas e de humanização, que exigem alertar e sensibilizar também a partir da Escola cada vez mais rica com a interculturalidade que só pode ser uma oportunidade para aprofundar e valorizar o Currículo Escolar como base da prática pedagógica, e a Missão da Escola que visa a formação de cidadãos livres e com capacidades para participar ativamente na construção de uma sociedade de conhecimento, no respeito e cumprimento dos valores humanistas, culturais, sociais e ambientais.
José Carlos Lopes - Ovar