Inquérito da GDA confirma situação de grave crise dos profissionais das artes do espectáculo

11 de maio 2020 - 19:49

Em média, por cada espectáculo cancelado, ficaram sem rendimento 18 artistas envolvidos, mais de um profissional de produção e mais de dois técnicos. Os números são de um inquérito lançado pela GDA - Gestão dos Direitos dos Artistas, durante o mês de Março.

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Foto de Hernán Piñera/Flickr

O inquérito obteve quase mil respostas e revela também que 69% dos espetáculos cancelados eram espetáculos de música, num total de 2.964 concertos. 24% eram récitas de teatro, 2% espetáculos de dança e 4% espetáculos de outra natureza.

Segundo o vice-presidente da GDA, Luís Sampaio, “a informação recolhida já foi discutida com a ministra da Cultura e com o Presidente da República, assim como com partidos com assento parlamentar e com presidente da Associação Nacional de Municípios”. E acrescentou: “São dados muitos relevantes dos setores da dança, do teatro e da música, apesar de admitirmos que estejam um pouco circunscritos, uma vez que 90% das respostas foram dadas por cooperadores da própria GDA: por essa razão, vamos permitir que outras organizações representativas dos artistas os cruzem com as suas próprias recolhas de informação: o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE) e a Associação dos Músicos de Portugal (AMP), um movimento informal de músicos criado em março, no início da crise do novo coronavírus”.

O questionário realizado pelo CENA-STE (Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos), ao qual responderam 1.300 trabalhadores, revela que 98% tiveram trabalhos cancelados, dos quais 33% por mais de 30 dias. Desses trabalhadores, 85% são trabalhadores independentes e sem qualquer tipo de protecção laboral. A situação é ainda mais grave porque os cancelamentos representam a perda de actividade de 2 a 3 meses para 67% dos inquiridos, a que acrescem muitos honorários já em atraso.

De acordo com o CENA-STE, serão necessários 4 a 6 meses, pelo menos, para que as actividades sejam repostas ou substituídas. Mas muitos dos cancelamentos não serão agendados novamente, por questões de sobreposição de agenda, pelo que representam uma perda efetiva de rendimentos previstos. 

Só entre Março e Maio, as perdas ascendem já a 2 milhões euros, uma média de 1.500 euros por trabalhador. O CENA-STE diz que na origem da atual situação está sobretudo a precariedade destes trabalhadores e o crónico sub-financiamento do setor.

Para Luís Sampaio, “somados aos dados da AMP e do CENA-STE, os nossos resultados [GDA] poderão contribuir para a construção de um retrato da situação que seja fiel à realidade dramática que está a ser vivida por muitos artistas em Portugal”.

A Associação dos Músicos de Portugal – AMP, é um grupo informal de debate sobre possíveis soluções para a crise que os artistas estão a viver, lançada pelos músicos Miguel Gameiro, Boss AC, Marisa Liz, Nelson Rosado, Pedro Fernandes Martins e Tiago Pais Dias, nas redes sociais e que conta já com mais de quatro mil inscritos.

De acordo com o "Plano de Desconfinamento", cinemas, teatros, auditórios e salas de espetáculos podem abrir em 01 de junho, "com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico", mas este plano está sujeito a reavaliação a cada 15 dias.

Esta quinta-feira será debatida na Assembleia da República uma proposta de lei do Governo que proíbe a realização de “festivais e espetáculos de natureza análoga” até 30 de setembro, mas com exceções para os espetáculos podem acontecer em recinto coberto ou ao ar livre, com lugar marcado e no respeito pela lotação especificamente definida pela Direção-Geral da Saúde.