A subida da inflação tem estado associada a dificuldades acrescidas para a maior parte das famílias portuguesas, devido à perda de poder de compra. No entanto, o impacto do surto inflacionista não é igual para todos. De acordo com dados do Banco de Portugal (BdP), as empresas não só repercutiram os custos acrescidos que tiveram nos preços que praticam, como terão em alguns casos aproveitado o contexto para aumentar margens.
As conclusões são do relatório do Conselho de Administração do BdP referente a 2022, divulgado pelo banco central esta semana. O BdP nota que as empresas “repercutiram os custos mais elevados nos seus clientes através de alterações mais frequentes dos preços de venda”. Além disso, reconhece que, “beneficiando desta conjuntura, algumas empresas terão também aumentado as suas margens de lucro”.
As contas do banco central também mostram que a subida dos preços (medida pelo deflator do PIB), que foi de 4,4%, esteve sobretudo associada a um aumento do excedente bruto de exploração unitário, que representa quase dois terços desta subida. Os custos unitários do trabalho representam 0,9 pontos percentuais e o dos impostos indiretos líquidos representa 0,7 pontos.
O que isto significa é que, de acordo com as contas do banco liderado por Mário Centeno, a subida generalizada dos preços na economia portuguesa esteve fundamentalmente associada a um aumento dos lucros das empresas, enquanto os salários da maioria dos trabalhadores pouco subiram.
Inflação atinge mais famílias mais pobres
Ainda neste relatório, o BdP sublinha que os preços dos bens alimentares subiram mais em Portugal do que na Zona Euro (cerca de 1,5 pontos percentuais acima), o que afetou de forma mais acentuada as famílias com menores rendimentos, que gastam uma proporção maior do seu salário neste tipo de produtos.
No relatório, pode ler-se que “o impacto da subida da inflação foi desigual entre agregados familiares, refletindo diferenças nos cabazes de consumo e na evolução dos preços dos diversos bens e serviços”.