As famílias portuguesas tiveram uma quebra acentuada do seu poder de compra face à subida dos preços ao longo do ano passado. De acordo com os dados da Comissão Europeia, essa perda de poder de compra só deverá ser verdadeiramente recuperada em 2025, ou seja, três anos depois do início da escalada da inflação.
É isso que se conclui nas Previsões de Primavera, publicadas pela Comissão na passada segunda-feira e noticiadas pelo Jornal de Negócios. A Comissão prevê um “aumento moderado” dos salários reais em Portugal ao longo deste ano e do próximo, o que, a verificar-se, teria como resultado uma recuperação “praticamente compensando os trabalhadores pela perda de poder de compra em 2022”.
Os salários nominais (isto é, sem ter em conta o efeito da inflação) deverão ter crescido 6,1% em 2022, e a estimativa de Bruxelas é que cresçam 5,7% em 2023 e 2,9% em 2024. No entanto, mesmo que estas estimativas se comprovem, o aumento total dos salários continuaria a não ser suficiente para compensar a subida acentuada dos preços, que terá sido de 8,1% em 2022 e que se estima que seja de 5,1% em 2023 e 2,7% em 2024.
Em resumo, os aumentos salariais que a Comissão estima que aconteçam nos próximos dois anos continuariam a não ser suficientes para as famílias portugueses recuperarem o poder de compra perdido face à inflação. Pelo contrário, Bruxelas considera que “os salários reais ainda vão diminuir este ano” na maioria dos países da União Europeia.
No relatório, pode ler-se que “até aqui, as famílias e os Estados assumiram uma grande parte da inflação, enquanto as empresas passaram, na generalidade, com sucesso, os efeitos dos maiores custos de produção para os consumidores”. O comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, disse mesmo que “como as margens de lucro das empresas estão a subir desde 2021 há uma margem de segurança para a absorção dos aumentos dos salários”.
Apesar disto, os responsáveis europeus continuam a insistir nos riscos de uma “espiral inflacionista” – isto é, de um crescimento expressivo dos salários que supostamente aumentaria a pressão das empresas para subir os seus preços, acentuando a inflação. A este respeito, os sinais de Bruxelas continuam a ser contraditórios.