Brasil

Indígenas Guarani-Kaiowás na mira de fazendeiros

11 de agosto 2024 - 16:13

Um grupo de indígenas decidiu montar um acampamento numa zona historicamente sua. Foram recebidos a tiro pelos jagunços a soldo dos fazendeiros. Desde 2011 que esperam a conclusão do processo de demarcação que deveria reconhecer-lhe a posse do território.

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Indígenas Guarani e Kaiowás em luta pelo seu território
Indígenas Guarani e Kaiowás em luta pelo seu território. Foto Tiago Miotto/CIMI.

Zona de Douradina, Mato Grosso do Sul, Brasil. A 14 de julho um grupo de 120 indígenas Guarani-Kaiowás decidiu acampar numa parte do território que historicamente era seu. Foram recebidos por intimidação, fogos de artifício e tiros.

Ao início, a Força Nacional esteve presente. Depois retirou-se e a lei da bala dos seguranças contratados pelos fazendeiros deixou para trás 11 feridos graves.

O direito dos indígenas àquela zona ocupada por fazendeiros foi já reconhecido pela Funai, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas, o organismo oficial brasileiro que lida com as questões indígenas. Mas o processo de demarcação que deveria culminar a formalização do seu direito à posse da terra está parado desde 2011.

À Deutsche Welle, Germano Alziro, estudante de mestrado em Geografia na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e um dos jovens dirigentes indígenas explica: “estamos esperando há muito tempo pelo Estado, não aguentamos mais, então resolvemos fazer a auto-demarcação. A situação aqui está crítica, muita violência, não estamos seguros”.

Há sete acampamentos indígenas nos 121 quilómetros quadrados da Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica. Disputam o território quatro fazendas. Os jagunços, dizem eles, instalaram um clima de terror psicológico, não os deixam plantar, caçar os pescas. Alziro acrescenta: “nossa comida está acabando. Já tem pessoas passando fome. Não conseguimos ir na cidade vender nossos produtos, comprar ou receber benefícios porque somos hostilizados, perseguidos. Tem comércio que nem deixa a gente entrar”.

A história, claro, vem de muito longe. Os povos Guarani e Kaiowá vivem em parte do sul do Mato Grosso do Sul e do Paraguai. A fixação de soldados na região no final do século XIX e os planos de colonização do Estado brasileiro a partir dos anos 1910 tornaram-se uma vaga de pressão pela posse da terra. Depois, na década de 1940, começou uma expulsão mais sistemática, criando-se a Colónia Agrícola Nacional de Dourados que foi fazendo chegar cada vez mais fazendeiros e confinou os indígenas a zonas cada vez menores. Estima-se que 40.000 pessoas foram obrigadas a viver em pequenas reservas dispersas, onde para sobreviver eram obrigados a trabalhar em condições análogas à escravatura.

Matias Rempel, do Conselho Indigenista Missionário da Igreja Católica, que tem acompanhado a situação sintetiza: “existe um massacre que, pela dimensão histórica e temporal, é um processo de genocídio. São atores e interesses muito bem identificados que imprimem uma violência extrema contra um povo”. É ao agro-negócio e ao seu poder económico e político que ele e os líderes indígenas apontam claramente o dedo.

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