Incêndios: falta de meios e ausência de prevenção deixam país a arder

20 de julho 2012 - 15:32

Os bombeiros queixam-se da falta de efetivos e de meios e alertam para a incapacidade de resposta em situações como aquela que agora se vive. Quercus defende que legislação não está a ser cumprida no que concerne à realização de trabalhos para prevenção de incêndios.

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Falta de efetivos e de meios

Em Viseu só há cinco pares de calças de fogo para os 39 efetivos dos bombeiros municipais de Viseu, denuncia Sérgio Carvalho, presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais.

"Este equipamento deveria ser individual, mas estes bombeiros só têm cinco pares de calças disponíveis", alertou Sérgio Carvalho, avançando que "isto faz-se num país do terceiro mundo".

O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, Fernando Curto, frisou que a situação de Viseu é "bastante caótica", sublinhando que o corpo de bombeiros profissionais deveria ter 60 elementos quando só tem 39. Fernando Curto acusou ainda a Câmara de Viseu de andar “há anos a fazer orelhas moucas" às reivindicações dos bombeiros.

Carência de bombeiros, equipamentos de proteção individual velhos e insuficientes e viaturas gastas e obsoletas. Estes são alguns dos constrangimentos de que se queixam há diversos anos os bombeiros e que constam do memorando entregue à Câmara de Viseu em maio passado.

O distrito de Viseu tem sido devastado por vários incêndios. Esta semana já foram registados três incêndios de grandes dimensões. Em Mangualde, as chamas e o efeito prejudicial do vento no combate ao incêndio determinaram, esta quinta feira, o corte da A25. Esta sexta feira, os bombeiros debatem-se com um incêndio com duas frentes no concelho de Sernancelhe.

A falta de meios no combate aos incêndios que assolaram a Madeira também mereceram inúmeras críticas, inclusive dos turistas que visitam a região.

Em comunicado, a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e o Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais afirmam “não compreender a falta de meios aéreos” no combate aos incêndios na Madeira.

As duas organizações sublinham que “a utilização de um helicóptero seria uma mais -valia e corresponderia à regra básica de combater um incêndio de cima para baixo”. “Não se compreende que ainda não tenha sido feito um investimento nessa matéria, tendo em conta o património natural da ilha”, adiantam.

Na Madeira, já foram assistidas nas urgências hospitalares 94 pessoas devido aos incêndios, entre as quais 14 bombeiros e cinco crianças. Os incêndios que estão a assolar a ilha desde domingo passado já consumiram muitos hectares de floresta e mato, destruíram várias habitações e obrigaram à evacuação de algumas zonas habitacionais.

Em Faro, o combate aos incêndios conta com a solidariedade incansável da população. Em Tavira, pelo menos 60% da freguesia de Cachopo já ardeu. “Tavira tem um terço de área ardida de todo o seu território”, adianta o autarca Jorge Botelho, com cerca de “20 mil hectares perdidos”.

Uma "boa parte" dos hectares já devastados pelas chamas corresponderá, segundo a Associação Al-Portel, a uma das melhores zonas de sobreiros do país.

Incumprimento da lei

João Branco, vice-presidente da associação Quercus, afirmou, em declarações à agência Lusa, que a lei que obriga à realização de trabalhos para prevenção de incêndios, não está a ser “minimamente cumprida”.

O ambientalista lembrou que a legislação obriga empresas gestoras rodoviárias, como a Estradas de Portugal, ou as concessionárias das autoestradas, e as câmaras municipais, a limpar alguns metros nas bermas das estradas, "o que não está a acontecer".

A limpeza das faixas de proteção das localidades, que, quando não é assegurada pelos privados, é da responsabilidade da administração pública, “que depois apresenta a conta aos privados", também não está ser cumprida.

Para João Branco o desordenamento florestal, nomeadamente com a "expansão descontrolada da área de eucalipto", e do território, com as câmaras a "deixar construir em qualquer lado", contribuem fortemente para a atual situação.

"Grande parte da administração pública e de outras entidades ligadas ao Estado ou privadas, que têm obrigação legal de fazer ações de defesa da floresta contra incêndios, não o estão a fazer", adiantou o ambientalista.

"Só se fala dos incêndios quando há fogos graves”, lamentou João Branco, frisando que “devido ao nosso clima, se não houver medidas de prevenção continuadas durante todo o ano, durante vários anos, isso é inevitável".

O responsável da Quercus salientou também os prejuízos dos incêndios que deflagram na Madeira para a floresta de laurissilva, e a destruição de ecossistemas mediterrânicos da fauna associada, no Algarve, já que os animais acabam por morrer quer diretamente pelos efeitos das chamas e do fumo como posteriormente, devido à falta de alimento.

Os "graves problemas de erosão e a possibilidade de aumento de enxurradas" também surgem como consequências destes incêndios, acrescentou João Branco.

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