Guterres: “Fracasso de cessar-fogo em Gaza seria imperdoável”

27 de março 2024 - 11:28

ONU exige cessar-fogo em Gaza durante Ramadão. EUA abstiveram-se. Relatora da ONU diz que ações de Israel "são impulsionadas por uma lógica genocida”. Guterres pede fornecimento maciço de ajuda a Gaza para combater fome.

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Foto QNA.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas exigiu, pela primeira vez, na segunda-feira, um cessar-fogo em Gaza durante o Ramadão, com os Estados Unidos a absterem-se na votação. O documento, que pede ainda a libertação de todos os reféns feitos durante o ataque surpresa do Hamas de 7 de outubro, refere que este cessar-fogo deve conduzir a uma trégua "duradoura". Todos os outros 14 membros do Conselho de Segurança votaram a favor da resolução, apoiada também pela Rússia, China e pelo Grupo Árabe, composto por 22 países.

António Guterres congratulou a aprovação da “resolução há muito aguardada sobre Gaza” e enfatizou que a mesma “tem de ser implementada”. “Um fracasso seria imperdoável”, vincou.

Um ultraje moral”

Com todos os relatórios e organizações a alertarem para uma situação catastrófica de fome em Gaza, Philippe Lazzarini, da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), explicou que Israel comunicou à ONU que não aprovará mais comboios humanitários dirigidos ao norte da Faixa de Gaza.

Já o secretário-geral da ONU pediu na segunda-feira um fornecimento maciço de ajuda ao território.

Guterres denunciou que “os palestinianos em Gaza continuam presos num pesadelo incessante”, e que, “a partir da passagem de Rafah”, viu “a desolação e a insensibilidade”.

“Uma longa fila de camiões de ajuda bloqueados de um lado dos portões. A longa sombra da fome do outro lado. Isto é mais do que trágico. É um ultraje moral”, escreve o representante da ONU nas redes sociais.

Em Rafah, Guterres deixou uma mensagem para os palestinianos em Gaza: “Não estão sozinhos. Pessoas de todo o mundo estão indignadas com os horrores a que todos estamos a assistir em tempo real. Eu levo as vozes da grande maioria do mundo que já viu o suficiente. Que estão fartos. E que continuam a acreditar que a dignidade e a decência humanas devem definir-nos enquanto comunidade global. É a nossa única esperança”, avança o secretário-geral da ONU.

De acordo com António Guterres, “é altura de inundar verdadeiramente Gaza com ajuda que salve vidas. A escolha é clara: ou o surto ou a fome. Vamos escolher o lado da ajuda - o lado da esperança - e o lado correto da história”.

A mensagem carrega ainda um apelo à comunidade internacional: “não devemos desistir de fazer tudo o que pudermos para que a nossa humanidade comum prevaleça em Gaza e em todo o mundo”.

Anteriormente, durante uma visita a um centro no campo de Wihdat, na Jordânia, o principal responsável da ONU já tinha realçado que “a decisão de não permitir que os comboios da UNRWA sigam para o norte de Gaza, onde temos uma situação dramática de fome, é totalmente inaceitável e aqueles que tomaram essa decisão devem assumir a responsabilidade" pelas suas consequências.

Assédio sistémico de Israel à ONU

Documentos internos das Nações Unidas citados pelo The Guardian referem que o Exército e as autoridades israelitas têm promovido uma campanha sistemática de assédio aos funcionários da ONU que trabalham com os palestinianos na Cisjordânia.

Os relatórios documentam os abusos cometidos por autoridades israelitas contra empregados da ONU detidos em postos de controlo e o uso de instalações de Nações Unidas como posições de tiro por parte de soldados israelitas durante as incursões em campos de refugiados.

A porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, afirmou que estes incidentes são “parte de um padrão de assédio generalizado contra a UNRWA na Cisjordânia e em Jerusalém Este, ambos territórios ocupado”.

Desde 7 de outubro, a UNRWA documentou, pelo menos, 135 incidentes que afetaram os seus centros sanitários, escritórios ou escolas, entre os quais figuram incursões, uso indevido das instalações e operações militares com fogo real ou com bombas de gás lacrimogéneo.

Israel acusa Espanha e outros três países de premiarem terrorismo

Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel acusou Espanha, Irlanda, Malta e Eslovénia de, ao trabalharem num plano para o reconhecimento de um Estado palestino, estarem a preparar um “prémio para o terrorismo”.

“O reconhecimento de um Estado palestino após o massacre de 7 de outubro envia uma mensagem ao Hamas e a outras organizações terroristas palestinianas de que os ataques terroristas assassinos contra os israelitas serão retribuídos com gestos políticos aos palestinianos”, escreveu Israel Katz no X.

Entretanto, os ataques de Israel a hospitais, como o de Al-Shifa e Al-Amal, mantêm-se. E os números do horror da mortandade em Gaza continuam a crescer. O número total de mortos desde o início da guerra ascende a 32.226. As autoridades palestinianas estimam que há ainda cerca de 7 mil cadáveres presos sob os escombros.

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