Guarda costeira grega apanhada a levar refugiados para alto-mar

21 de maio 2023 - 18:30

Imagens publicadas pelo New York Times mostram como um grupo de requerentes de asilo, incluindo várias crianças que tinham chegado à ilha de Lesbos na véspera, foram apanhados em terra e abandonados à deriva em alto-mar.

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Refugiados levados de terra para um barco de borracha, antes de serem transferidos para um navio da Guarda Costeira da Grécia. Imagem publicada pelo New York Times

"Não esperávamos sobreviver naquele dia. "Quando nos puserem naquela lancha insuflável, fizeram-no sem nenhuma piedade", contou Aden, uma das requerentes de asilo que aparece nos vídeos publicados pelo New York Times e que o jornal encontrou semanas mais tarde num centro de detenção em Izmir, na Turquia.

Aquele dia foi a 11 de abril, pouco depois de terem chegado em botes de contrabandistas a Lesbos e passarem a noite escondidos no mato. Alguns vieram da Somália, Etiópia e da Eritreia a fugir da guerra e passaram pelo menos um ano na Turquia a tentar conseguir dinheiro para pagar a passagem para a Grécia e pedir asilo na União Europeia. Foram apanhados por homens mascarados que lhes disseram trabalhar para os Médicos Sem Fronteiras e que lhes roubaram todos os pertences. Em seguida foram postos numa carrinha branca, que as imagens mostram a chegar à beira-mar e de onde saem para entrar numa lancha a motor. É nessa lancha que se fazem ao mar e depois são transferidos para um barco da Guarda costeira grega. Este prossegue viagem até ao limite das águas territoriais, onde são obrigados a entrar num bote sem motor e aí deixados à deriva.

Segundo o jornal, poucas horas depois chegaram dois barcos da patrulha turca, avisados pelos congéneres gregos da presença da embarcação. A viagem termina de regresso à Turquia, ao centro de detenção onde ainda se encontram.

A prática ilegal das devoluções a quente (pushbacks) em alto mar por parte da guarda costeira grega já era bem conhecida, mas esta é a primeira vez que se documenta essa prática quando os refugiados já estão em solo da União Europeia, tendo por isso o direito a requerer asilo.

Questionada sobre estas imagens, a Comissão Europeia diz ter ficado "preocupada" com o que viu e que iria pedir explicações às autoridades gregas. A Grécia "deve respeitar plenamente as obrigações decorrentes das regras de asilo da UE e do direito internacional, incluindo a garantia de acesso ao procedimento de asilo", afirmou ao New York Times Anitta Hipper, porta-voz da Comissão Europeia para a migração.

 
O Conselho Europeu para os Refugiados e Exilados lembrou esta sexta-feira que o primeiro-ministro grego e candidato às legislativas deste domingo, Kyriakos Mitsotakis, foi esta semana fazer campanha a Lesbos e afirmar-se "excecionalmente orgulhoso" quando à sua política "firme mas justa" quanto à migração. "Protegemos as fronteiras do nosso pais por terra e por mar e reduzimos as chegadas ilegais", disse o líder da Nova Democracia, comparando as 11 mil pessoas que chegaram a Lesbos desde que o seu governo tomou posse em 2019 com as "640 mil durante os governos do Syriza".

Nas redes sociais, a jornalista Matina Stevis-Gridneff, uma das autora da reportagem, conta como foi o processo de verificação destes relatos.

 

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