A greve convocada para esta quinta-feira pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses atingiu 82% de adesão nos centros de saúde da região de Lisboa, disse à Lusa fonte sindical. A dirigente do SEP Isabel Barbosa acrescentou que em alguns centros de saúde a adesão foi total. A paralisação abrange os centros de saúde das Unidades Locais de Saúde de Amadora/Sintra, Estuário do Tejo, Loures-Odivelas, Santa Maria, São José e Lisboa Ocidental.
A greve foi acompanhada de uma concentração junto ao Ministério da Saúde, onde os enfermeiros reclamaram mais salários, progressão na carreira e igualdade de tratamento, dizendo-se “cansados de injustiças” e reclamando a contabilização dos pontos para efeitos de progressão na carreira, com o pagamento atualizado e dos retroativos desde 2018. Reivindicam ainda a vinculação dos enfermeiros com contratos precários, a transição para a categoria de enfermeiro especialista de todas as profissionais que não transitaram devido ao seu “legítimo exercício dos seus direitos de maternidade” e a operacionalização do designado “acelerador de carreira”. E contestam a “ausência de reforço e de investimento” no SNS por parte do “plano de emergência” apresentado pelo Governo, criticando o documento por se centrar “no forte envolvimento dos grupos privados de saúde”.
Presente na manifestação, a coordenadora bloquista Mariana Mortágua sublinhou que a emigração de jovens qualificados portugueses é em parte de enfermeiros, médicos e outros profissionais de saúde que procuram emprego com melhores condições e remuneração. E criticou o Governo por dizer “que há recursos limitados” e ao mesmo tempo pretender aplicá-los a entregar a gestão de centros de saúde ao privado “em vez de usar o dinheiro que está disponível para investir no SNS e valorizar os seus profissionais”.
Para Mariana Mortágua, essa opção deve-se apenas ao “radicalismo ideológico e ao dogma do PSD que quer à força entregar a saúde ao negócio privado quando está à vista que se o mesmo dinheiro for usado para pagar a profissionais no público isso resulta muito melhor e mantemos o SNS em todo o país, com acesso em todo o território”.
A coordenadora bloquista regista que o Governo não quer valorizar as carreiras e prossegue assim “o caminho que fez o anterior Governo”, que manteve durante anos um braço de ferro com médicos e enfermeiros que resultou na sangria de profissionais no SNS, na recusa dos médicos em fazerem mais horas extraordinárias para além do limite legal e na emigração de enfermeiros.
“Estes jovens querem trabalhar aqui”, sublinhou Mariana Mortágua, insistindo que o dinheiro “tem de ser usado para investir nas pessoas que trabalham no SNS” em vez de as continuar a arrastar para “negociações sem fim”.