Governo polaco acusado de usar Ucrânia como arma de arremesso eleitoral

22 de setembro 2023 - 12:14

O anúncio do fim do fornecimento de armas a Kiev surgiu como resposta às queixas ucranianas por causa da proibição polaca da importação de cereais ucranianos. Políticos alemães acusam o partido do poder em Varsóvia de fazer campanha eleitoral à custa da Ucrânia.

PARTILHAR
Mateusz Morawiecki
Primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki esta quinta-feira num encontro com militares. Foto PiS/Facebook

A poucas semanas das eleições marcadas para 15 de outubro, a decisão do governo polaco de manter a proibição da importação de cereais vindos da Ucrânia, justificando-o com a concorrência desleal face aos seus agricultores, foi mal recebida em Kiev. O governo ucraniano anunciou a entrega de uma queixa contra a Polónia na Organização Mundial do Comércio e Zelensky foi a Nova Iorque acusar "alguns países", sem mencionar a Polónia, de criarem uma novela em torno dos cereais que apenas serve os interesses da Rússia. Na resposta, o primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki anunciou que o país iria deixar de fornecer novo armamento à Ucrânia, concentrando-se a partir de agora em modernizar as suas próprias forças armadas.

O conflito entre os dois países é visto na coligação que governa a Alemanha à luz da campanha eleitoral polaca. O porta-voz dos liberais do FDP, Ulrich Lechte, diz que as declarações de Morawiecki fazem parte da "estratégia eleitoral do governo do PiS para desviar atenções do escândalo dos vistos", lamentando que este partido faça a sua campanha "às custas da Ucrânia". Lechte referia-se Às recentes notícias de que dirigentes do PiS teriam emitido vistos de trabalho a não-residentes na UE em troca de subornos, apesar da retórica anti-imigração do seu partido. Também o ministro da Agricultura alemão Cem Özdemir acusou o governo polaco de "só mostrar solidariedade quando pode tirar proveito disso".

Mas estas declarações alemãs também podem influenciar a campanha, num momento em que o PiS procura explorar o sentimento anti-alemão do eleitorado, acusando frequentemente o líder da oposição Donald Tusk de ter grandes afinidades com Berlim. Um dos tempos de antena do PiS mostra o seu líder Jaroslaw Kaczynski a rejeitar uma chamada telefónica do chanceler alemão que o queria pressionar a aumentar a idade de reforma no país. "Por favor, peça desculpa ao chanceler, mas é o povo polaco que vai decidir sobre esta questão num referendo", diz Kaczynski ao funcionário fictício da embaixada alemã. "Tusk já não está cá e esses hábitos acabaram" remata o líder do PiS antes de desligar o telefone.

Num esforço mais apaziguador, o presidente lituano Gitanas Nausėda apelou em Nova Iorque no encontro com Zelensky e Andrzej Duda para que estes se sentem à mesa e resolvam o conflito diplomático "para bem do nosso objetivo comum e mais importante: a proteção da Europa contra a política expansionista agressiva da Rússia". E ofereceu-se para aumentar a quantidade de cereais a transitar pelo seu país, de forma a aliviar a pressão sobre a Polónia.