O Bloco de Esquerda reuniu esta terça-feira com sindicatos e associações que representam diferentes profissões dentro do SNS. À saída da reunião, Mariana Mortágua tirou três conclusões sobre o encontro.
A primeira é que “a atitude predatória do privado face ao público, o facto da SNS recorrer de forma excessiva ao privado é um fator de desorganização do próprio SNS e é um fator de desperdício de recursos públicos”.
A segunda conclusão é que o plano de emergência apresentado pela Ministra da Saúde “não é plano nenhum e não resolve qualquer urgência”. Isto porque “mantém as urgências fechadas rotativamente, mantém os serviços de pediatria e obstetrícia fechados rotativamente, não resolve problemas de acesso ao SNS, cria novos problemas de organização dentro dos serviços do SNS que não sabem, não têm conhecimento de quando estes encerramentos vão ter lugar e em cima desta falta de resposta, comprou e conseguiu comprar guerras com administrações hospitalares, profissionais do SNS, presidentes do INEM”. Houve “uma sucessão de demissões” ao mesmo tempo que foi revelada uma “total incapacidade para responder aos problemas do SNS”.
A terceira conclusão apresentada é que “para resolver o problema do SNS é preciso responder de carreiras e a salários das pessoas que trabalham no SNS”.
A coordenadora bloquista acrescenta que, na reunião, foram apresentadas “propostas interessantes” sobre como organizar melhor o SNS, com “interação e a conjugação de diferentes profissões para criar equipas multidisciplinares” para o que “é preciso apostar na promoção da saúde, na prevenção da doença, nos cuidados de saúde primários”.
“Pré-colapso” na emergência médica
Rui Lázaro, do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, também sublinhou esta questão. Na área da emergência médica muitos problemas “requerem uma resposta multidisciplinar” e por isso é importante sentar à mesa “representantes das varias carreiras do Ministério do Saúde”.
O dirigente sindical considera que a situação na emergência médica é de “pré-colapso”. A situação do INEM “é muito mais grave, infelizmente, do que tem que tem vindo a público”, denuncia, com atrasos de “uma duas horas”, com “várias dezenas de chamadas nas centrais do INEM para ser atendidas à espera de uma resposta” o que “tem consequências diretas na vida e necessariamente na morte dos portugueses”. Com o verão, a situação só piorará.
A tutela dever reforçar e valorizar carreiras até para “dar o sinal” para atrair técnicos para os concursos. “Os últimos concursos ficaram praticamente vazios”, lamenta. Deixou também claro que “não há melhora no tempo de resposta das ambulâncias e diminuição do tempo de espera nas centrais se a carreira desses técnicos não for valorizada”.
Gabinetes prontos sem ser usados e médicos dentistas sem carreiras
Maria Miguel Bettencourt, da Associação Portuguesa dos Médicos Dentistas dos Serviços Públicos, considerou igualmente importante a reunião. No caso dos médicos dentistas, ocasiões como esta servem para destacar que há 22 contratados como técnicos superiores do regime geral, “o que é uma ilegalidade”, cerca de 130 que estão ou a recibos verdes ou a contratos e também há pelo menos 33 gabinetes 2que foram feitos e que estão preparados para receber médicos dentistas e que neste momento, as ULS não conseguem contratar porque não existe uma carreira de medicina dentária”.
A história, recorda, já vem de longe. A primeira proposta de criação de uma carreira destas foi em 1986 pela Ordem de Médicos. Depois, em 2017, “esteve praticamente aprovada” mas “ficou por aí”.
Assim, não existindo carreira “não há maneira de legalizar os profissionais que estão a trabalhar” e que são importantes também por causa da importância da ligação entre a saúde oral e a saúde geral das pessoas. Sem a saúde oral, “há risco de perda de transplantes, o risco de complicações em cirurgias cardíacas”, exemplifica.