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Governo dá concessão de Carris e Metro à espanhola Avanza

Grupo apresenta-se como o maior operador privado de transportes urbanos do país, mas não opera em nenhuma capital espanhola. Fectrans afirma que o grupo tem muitos problemas com os trabalhadores. Catarina Martins compara concessão à PPP das ex-SCUT
Carris tem 635 veículos. Foto de Paulete Matos
Carris tem 635 veículos. Foto de Paulete Matos

O grupo espanhol Avanza obteve a concessão da Carris e do Metro de Lisboa, anunciou o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro. O grupo é detido maioritariamente por sócios mexicanos, da empresa ADO. Apesar de se apresentar como o maior operador privado de transportes urbanos em Espanha, não opera os transportes públicos de nenhuma capital, nem nenhum metropolitano. Afirma operar mais de 1.750 autocarros, aos quais juntará os 635 veículos da Carris e as 338 carruagens do metropolitano de Lisboa.

A subconcessão do metropolitano é válida por oito anos e meio. Já a exploração das linhas da Carris será válida por oito anos. Findo o prazo, caberá ao executivo decidir se lança um novo concurso para manter a subconcessão dos serviços.

FECTRANS alerta que empresa tem problemas complicados com os trabalhadores

A Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) advertiu que o grupo Avanza tem questões laborais “muito complicadas” em Portugal.

“É uma empresa que nós, FECTRANS, conhecemos muito bem, com a qual já temos um conflito laboral. Porque é uma empresa que em Portugal, na Covilhã, tem problemas muito complicados com os trabalhadores”, afirmou Anabela Carvalheira, dirigente da Federação, à agência Lusa.

Em 2009, o grupo Avanza concorreu e ganhou a concessão para gerir os transportes urbanos da Covilhã, em Portugal.

No início deste mês, os motoristas da Covibus realizaram uma greve de 48 horas para reivindicarem aumentos salariais. Na altura, em declarações à Lusa, Manuel Castelão, do Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP) referiu que a greve era "o último recurso dos trabalhadores perante o que tem sido a irredutibilidade da empresa relativamente à atualização salarial para valores que o sindicato considerava muito razoáveis".

Mas para a FECTRANS "o que está em causa para nós é a questão da concessão, leia-se privatização, que irá ser prejudicial para o erário público, para os trabalhadores e para a empresa", afirmou a dirigente sindical.

Muitos milhões de euros ao concessionário

Anabela Carvalheira recordou que o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, garantiu que "não haverá aumento do preço dos bilhetes". "Mas não garante aquilo que nós denunciamos: que o governo com este negócio não vai poupar dinheiro ao erário público porque deixa de pagar indemnizações compensatórias, mas vai pagar, a título de outra rubrica, muitos milhões de euros ao concessionário", defendeu.

O grupo vai gerir, a partir do próximo mês, as empresas lisboetas de transportes públicos Carris e Metropolitano na sequência do concurso anunciado em fevereiro pelo governo e ao qual se apresentaram cinco candidaturas.

Como as PPP das ex-SCUT

Recorde-se que a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, já alertara que a concessão “é uma gigantesca PPP em tudo semelhante às Parcerias Público-Privadas das ex-Scuts, onde o Estado paga, passem carros ou não passam. Aqui o Estado vai andar a pagar quer andem pessoas no metro e nos autocarros, quer não andem”, afirmou.

“Não se pode deixar passar mais este assalto ao país. Chega de PPP, chega de negócios ruinosos. Os transportes coletivos são uma responsabilidade pública. Transformá-la num negócio privado é empobrecer o país”, prosseguiu a porta-voz do Bloco, considerando quer a operação é “um verdadeiro assalto ao país”.

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