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Governo britânico aprova extradição de Assange

A luz verde da ministra Priti Patel segue-se às decisões da justiça que aceitaram as garantias do EUA sobre o tratamento do fundador da Wikileaks nas prisões norte-americanas. Advogados de Assange vão contestar a decisão.
Julian Assange. Imagem Wikileaks.

A ministra do Interior britânica aprovou o pedido dos EUA para extraditar Julian Assange. Nos tribunais norte-americanos, o fundador da Wikileaks pode ser condenado a uma pena de 175 anos de prisão por alegados crimes de espionagem, devido à revelação de violações dos direitos humanos por parte das tropas norte-americanas no Iraque e Afeganistão e também na prisão de Guantánamo.

A decisão da ministra veio contrariar os apelos de inúmeras entidades, incluindo a Organização para a para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), cuja representante para a liberdade de imprensa, Teresa Ribeiro, afirmou ser "essencial considerar o impacto na liberdade de expressão e na liberdade de imprensa se ele for extraditado e condenado".

Além de ser um precedente perigoso para a liberdade de imprensa e para o jornalismo de investigação, os advogados de Assange procuraram convencer os juízes britânicos do impacto que teria o envio para as prisões norte-americanas para a já frágil saúde do fundador da Wikileaks, lembrando o tribunal sobre as notícias que deram conta do plano orquestrado pela CIA para o tentar assassinar enquanto estava na embaixada do Equador em Londres.

Agora abre-se uma nova fase da batalha jurídica, com a contestação da decisão da ministra. "Hoje não é o fim desta luta, é apenas o início de uma nova batalha legal", afirma a Wikileaks num comunicado divulgado nas redes sociais, acrescentando que o primeiro recurso será entregue no Tribunal Superior.

"Não se enganem, este sempre foi um caso político. Julian publicou provas de que o país que pede a sua extradição cometeu crimes de guerra e escondeu-os; torturou e sequestrou; subornou funcionários estrangeiros; e corrompeu inquéritos judiciais sobre os seus delitos. A sua vingança é tentar fazê-lo desaparecer nos recantos mais obscuros do seu sistema prisional para o resto da sua vida e dissuadir outros de chamarem os seus governos à responsabilidade", acrescenta o comunicado.

A Federação Internacional dos Jornalistas reagiu à decisão do Reino Unido de permitir a extradição de Assange e classificou-a como "vingativa e um verdadeiro golpe para a liberdade dos meios de comunicação social". Para a federação, "ele apenas expôs questões que eram do interesse público e o facto de Patel não ter reconhecido isto é vergonhoso e cria um terrível precedente".

Para o Centro para o Jornalismo de Investigação, trata-se de "uma decisão definidora de uma era e desastrosa para a liberdade de imprensa no Reino Unido". E a Federação Intenacional de Direitos Humanos diz que "uma vez nos EUA, Julian Assange corre o risco de sofrer maus-tratos na detenção" e que a autorização da sua extradição "é um sinal desastroso para todos aqueles que lutam pela liberdade de informação".

Exilado na Rússia e perseguido pelos EUA por revelar a existência de um sistema de vigilância massiva das comunicações nos norte-americanos e não só, Edward Snowden também reagiu à decisão de Priti Patel. Lembrando que todas as principais organizações de defesa da liberdade de expressão apelaram à não extradição de Assange, Snowden considera que a luz verde do Governo "é um símbolo terrível de como o compromisso dos governos britânico e americano com os direitos humanos tem diminuído." E questiona: "Como podemos condenar abusos autoritários semelhantes no estrangeiro"?

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