Glifosato: estudo mostra danos cerebrais, ecologistas levam Comissão a Tribunal Europeu

14 de dezembro 2024 - 10:09

Uma rede de associações colocou o prolongamento da autorização do uso de glifosato na União Europeia no Tribunal de Justiça da União Europeia por esta faltar ao dever de proteção da saúde pública, rejeitar provas científicas e “negligenciar as investigações revolucionárias sobre o cancro”.

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Sinal de perigo de pesticidas.
Sinal de perigo de pesticidas. Foto de Austin Valley/Flickr

A revista científica Neuroinflammation publicou na quarta-feira da semana passada um estudo no qual se mostra “pela primeira vez” que até um breve contacto com o glifosato pode causar danos cerebrais. Esta substância já tinha sido considerada pela Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro da Organização Mundial da Saúde como “possivelmente cancerígena para humanos”.

As experiências realizadas em ratos domésticos demonstraram que após exposição ao longo de 13 semanas a este herbicida estes roedores “desenvolvem uma inflamação cerebral significativa associada a doenças neurodegenerativas”, surgindo pioria da patologia semelhante à doença de Alzheimer, mortes prematuras e comportamentos semelhantes à ansiedade.

Quando os animais foram analisados bastante após a exposição, as análises revelaram “vários efeitos persistentes e prejudiciais à saúde do cérebro”. Um subproduto do glifosato, o ácido aminometilfosfónico, também se acumula no tecido cerebral.

As descobertas do grupo liderado por Samantha K. Bartholomew, investigadora do Velazquez Laboratory for Neurodegenerative Diseases, acompanhada por Ramon Velazquez, da Universidade Estadual do Arizona e por outros cientistas do Translational Genomics Research Institute, aumentam assim as preocupações já existentes sobre o uso do pesticida.

Os investigadores descobriram que para além da dose alta administrada ser nociva, também a dose mais baixa, próxima do limite estabelecido como “dose aceitável” para humanos, causa efeitos prejudiciais que se mantêm meses depois da exposição e do período de recuperação.

Velazquez conclui que o trabalho “contribui para a crescente literatura que destaca a vulnerabilidade do cérebro ao glifosato”.

Por sua vez, Bartholomew tem “esperança” que o trabalho que realizou estimule mais investigações sobre os efeitos da exposição ao glifosato, “o que poderia levar a um reexame de sua segurança a longo prazo e, talvez, desencadear um debate sobre outras toxinas predominantes no nosso ambiente que podem afetar o cérebro”.

Associações ecologistas partem para tribunal contra União Europeia

O prolongamento da autorização da utilização do herbicida na Europa até 2033, decidido pela Comissão Europeia liderada por Von der Leyen, levou também um grupo de organizações não governamentais a anunciarem esta quarta-feira que irão levar o caso ao Tribunal de Justiça da União Europeia.

No início de agosto, já três associações francesas tinham tomado este passo. Agora é o coletivo Pesticide Action Network Europe, junto com algumas organizações que o compõem como ClientEarth o Générations Futures, a recorrer à justiça.

De acordo com o Libération, acusa-se Bruxelas de ter “faltado ao seu dever de proteção da saúde pública” e de “rejeitar provas científicas e negligenciar as investigações revolucionárias sobre o cancro”.

Angeliki Lyssimachou, desta rede de coletivos, justifica que há “numerosos estudos científicos” que “estabelecem claramente uma ligação entre glifosato e efeitos nefastos graves, tais como o cancro e, potencialmente, doenças neurológicas nas crianças”.