Genialidade de género? Estereótipo é mais comum nos países mais desenvolvidos

20 de março 2022 - 10:39

As raparigas têm mais tendência a acreditar que falham por “falta de talento” do que os rapazes. As respostas de estudantes ao inquérito PISA de 2018 indicam maior prevalência nos países com mais igualdade de género.

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Alunos. Foto de Paulete Matos.
Alunos. Foto de Paulete Matos.

Segundo o estudo The stereotype that girls lack talent: A worldwide investigation, publicado na revista científica Science Advances, é mais provável que as raparigas atribuam as suas falhas a “falta de talento” do que os rapazes.

Os investigadores Clotilde Napp e Thomas Breda, do Centro Nacional de Investigação Científica francês, coordenaram uma análise que trabalhou dados de mais de 500 mil estudantes de 72 países e concluíram que o estereótipo que pressupõe que os homens são inerentemente mais talentosos está presente em quase todos os países estudados. Em Portugal também. A única exceção encontrada foi a Arábia Saudita.

Esta conclusão foi trabalhada a partir da questão “Quando falho, receio que isso possa ter acontecido por não ter talento suficiente”. Esta fazia parte do estudo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2018 que avalia os conhecimentos de 15 anos na matemática, leitura e ciências mas também as suas atitudes em relação à competição, autoconfiança e carreiras futuras.

O estereótipo chamado de “genialidade de género” implica que, por exemplo, ao falharem os rapazes mais facilmente atribuam culpas a fatores externos. E os resultados mostram que este fenómeno é mais forte nos países que pertencem à OCDE do que naqueles que a ela não pertencem. Nos primeiros, a diferença entre respostas foi de 14% (61% das raparigas atribuíram o falhanço à falta de talento face a 47% dos rapazes), nos segundos a diferença é menor, apenas 8%.

Em Portugal, diz a investigação, este estereótipo está acima da média do conjunto dos países estudados (0,38 em Portugal e 0,24 na média dos países) e acima da média dos países da OCDE 0,32).

O Público falou com Thomas Breda sobre o seu estudo, que avançou ainda mais ideias. Para ele, o estereótipo da “genialidade de género” é mais vincado nos estudantes com melhor desempenho, nos países mais desenvolvidos e com mais igualdade de género. Também no que diz respeito à autoconfiança e à vontade de trabalhar no futuro em tecnologias da informação e da comunicação as raparigas indicaram resultados mais baixos, o que o investigador diz que pode ser “uma possível explicação do chamado ‘teto de vidro’”, a barreira invisível que limitaria o sucesso das mulheres.

Breda diz que este estereótipo pode ser explicado pelo enraizamento das categorizações de género pelo “enfraquecimento das normas e papéis de género tradicionais sobre a educação, o trabalho e a participação política” que “pode ser associado ao reforço de novas formas de diferenciação de género, como o do estereótipo da ‘genialidade de género’, que permitem que a hierarquia de género vá perdurando”.

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