Esta quarta-feira à noite houve debate na televisão espanhola entre os candidatos dos principais partidos galegos. Com a anunciada ausência de Alfonso Rueda, o candidato do PP que atualmente governa a Galiza, o plateau televisivo ficou entregue à líder do Bloco Nacionalista Galego (BNG), Ana Pontón, e ao candidato dos socialistas galegos, José Besteiro. Na relação de forças da política galega, segundo a sondagem do CIS publicada na segunda-feira, o último dia do limite legal, o BNG alcançaria entre 24 a 31 deputados e o PSdeG entre 9 e 14, tornando possível uma maioria para acabar com o domínio do PP, a quem a sondagem atribui entre 34 e 38 deputados, o número que define a maioria absoluta no parlamento galego. A subida em flecha das intenções de voto no BNG, com mais 8 deputados do que na primeira sondagem de janeiro, e a estagnação do PP, que se mantém inalterado nessas intenções de voto, são as principais tendências identificadas na sondagem, que dão ainda a hipótese da entrada no hemiciclo ao Sumar e à Democracia Ourensana. Contudo, noutras sondagens publicadas no fim de semana, o PP conservava a maioria absoluta com entre 38 e 41 deputados.
Ana Pontón diz que só existem duas opções de governo na Galiza: o PP ou o Bloco
Alfonso Rueda quis seguir a tática que usou Alberto Feijóo, o líder do PP nacional que também decidiu não participar no último debate televisivo das legislativas espanholas de julho. Dias depois, em vez da esperada maioria que as sondagens lhe atribuíam, Feijóo passou pela humilhação de ver todos os partidos - à exceção da extrema-direita do Vox - juntarem-se para viabilizar a investidura do socialista Pedro Sánchez e assim impedirem a sua chegada à Moncloa.
VÍDEO | Ana Pontón, sobre la ausencia de Alfondo Rueda (PP) en el debate: "Hoy, el candidato del PP no le da plantón a TVE ni a mí o al señor Besteiro, sino a la ciudadanía gallega" https://t.co/HUVjdkdT2B pic.twitter.com/9bbLPKlPdg
— EL PAÍS (@el_pais) February 14, 2024
"É muito melhor fugir dos debates para não ter de dar explicações", dizia Ana Pontón a abrir cada tema. Ao longo do debate, tanto a líder do BNG como José Besteiro nunca nomearam Rueda, referindo-se sempre ao "candidato ausente" que "ou está a esconder alguma coisa ou não tem nada para dizer". E essa ausência terá ajudado também a que o debate não tenha proporcionado momentos de confronto entre socialistas e bloquistas, que embora tenham propostas muito diferentes têm também consciência de que a partir de domingo podem ter de partilhar o futuro executivo galego. A maior fricção ocorreu na discussão sobre as medidas para baixar a conta da eletricidade, com Besteiro a puxar dos galões da "exceção ibérica" negociada por Sánchez em Bruxelas que permitiu baixar as tarifas, e Pontón a defender a "exceção galega", por se tratar de um território excedentário na produção elétrica.
Ana Pontón promete "defender a agenda galega sem subordinação ao centralismo"
Como seria de prever, os candidatos procuraram centrar o debate no balanço dos 15 anos de governo do PP, durante o qual "se triplicou a dívida enquanto se cortava na saúde e educação", como sublinhou a líder dos bloquistas galegos, ou se provocou a queda do peso da indústria e o desaparecimento das caixas de crédito e do Banco Pastor, como apontou o líder socialista. Ana Pontón referiu também a proximidade do "candidato ausente" ao presidente argentino Javier Milei, que agora ameaça as empresas mistas do setor das pescas com capital galego, ou a Isabel Díaz Ayuso, a presidente da Comunidade de Madrid que se opõe ao projeto do TGV entre Vigo, o Porto e Lisboa.
O próprio moderador do debate ia insistindo para que os candidatos sublinhassem mais os pontos que os separam, mas não teve grande êxito. Já quando perguntou como seria um governo alternativo ao do PP, Besteiro respondeu que "se nos perguntassem isso há um mês, ninguém acreditaria que ia haver uma mudança, mas agora já se vislumbra, já se toca". Ana Pontón afirmou que "se a cidadania fizer essa aposta (um governo de coligação), estarei encantada e orgulhosa de ser a presidenta de um governo que represente a pluralidade".
Enquanto Besteiro se definiu como "um socialista e não nacionalista, o que me leva a uma forma de entender a Galiza, quero olhar mais para fora do que para dentro", Pontón respondeu-lhe que "o que a Galiza precisa é uma presidenta com mãos livres para defender a agenda galega sem subordinação ao centralismo".
Vótame
Por #AMellorGaliza! Faremos historia.pic.twitter.com/1ifmw6IHNM
— Ana Pontón (@anaponton) February 14, 2024
No debate de @rtve demostramos por que nós somos o cambio seguro, o que ten experiencia de goberno e sabe facelo.
Pido o voto para que en Galicia haxa máis empregos, dereitos e ambición de país, e deixemos de ter un goberno ausente.
Eu comprométome a dar a cara sempre por… pic.twitter.com/6yEMbdHKBS
— Gómez Besteiro (@jrgomezbesteiro) February 14, 2024
À mesma hora que Ana Pontón debatia com José Besteiro na TVE, captando assim boa parte dos telespectadores galegos, a televisão pública galega TVG, frequentemente acusada de favorecer os interesses do PP e de nunca dar notícia das atividades de Ana Pontón a menos que seja para cobertura negativa, decidiu programar para a mesma hora a única entrevista à candidata do BNG que foi obrigada a fazer pela Junta Eleitoral durante o período de campanha.