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Fundos estrangeiros representam 85% do investimento imobiliário

A entrada em força dos fundos estrangeiros no mercado imobiliário português tem contribuído para a escalada dos preços da habitação. Catarina Martins voltou a defender o fim dos "sistemas fiscais de privilégio" a estes fundos.
Lisboa. Foto de Luca Sartoni/Flickr

Os fundos de investimento estrangeiros no mercado imobiliário português rapidamente afastaram os seus congéneres portugueses, captando agora uma fatia de 85% de todo o investimento, segundo um relatório da Savilis citado esta quinta-feira pelo Jornal de Negócios.

“Hoje em dia são pouco mais de uma mão-cheia os fundos de investimento imobiliário [nacionais] que estão ativos”, diz ao Negócios Nuno Nunes, responsável por mercados de capitais na CBRE, lembrando que até há uma década, estes representavam mais de metade do investimento imobiliário. “A partir de 2014 e 2015, Portugal começou a entrar de forma rápida no radar desses investidores internacionais, que têm uma dimensão e capacidade de investimento que lhes permite ser muito competitivos e capazes de executar as maiores operações do mercado”, diz o analista.

Esse aumento do apetite dos fundos para rentabilizar as casas dos portugueses não tardou a traduzir-se na subida em flecha dos preços e das rendas das casas, resultando na atual crise da habitação com "preços exorbitantes das rendas de casa não correspondem a capacidades dos salários de quem trabalha em Portugal, correspondem à especulação imobiliária alimentadas por fundos imobiliários internacionais", afirmou Catarina Martins esta quinta-feira aos jornalistas.

Para a coordenadora bloquista, "sem acabar com os sistemas fiscais de privilégio para estes fundos de investimento e residentes não habituais, não será possível ter um mercado regulado de habitação em Portugal com preços que quem aqui trabalha possa pagar". E "o Governo pode continuar a anunciar as pequenas medidas que quiser, mas enquanto não puser cobro ao assalto dos fundos de investimento e dos benefícios fiscais a não residentes, os preços das casas vão continuar impossíveis em Portugal".

Horas depois destas declarações feitas à margem da concentração da greve dos enfermeiros dos hospitais privados, o Conselho de Ministros anunciou a concretização de algumas medidas já anunciadas no pacote Mais Habitação, em concreto o apoio a algumas famílias no pagamento da renda e do crédito à habitação. Este pacote de medidas, na maioria ainda em discussão pública, não prevê o fim dos benefícios fiscais a não residentes e a fundos imobiliários, que têm ajudado a inflacionar o mercado imobiliário português.

Nómadas digitais: já foram emitidos mais de meio milhar de vistos

Segundo o jornal online Eco, Portugal já emitiu cerca de 550 vistos aos chamados "nómadas digitais", vindos sobretudo do Reino Unido, Estados Unidos e Brasil. Este regime permite a cidadãs de fora da União Europeia viverem em Portugal e trabalharem para fora durante um ano, tendo de apresentar prova de rendimentos superiores a cerca de 3.040 euros mensais. Além do visto e autorização de residência, estes trabalhadores passam a descontar apenas 20% dos seus rendimentos do trabalho, em vez de descontarem pela tabela do IRS a que estão sujeitos os restantes trabalhadores e que podem ir até aos 48%.

Além dessa vantagem fiscal, o Governo aprovou um novo apoio, publicado em Diário da República no início do mês. Estes "nómadas digitais" podem passar a beneficiar também do apoio "Emprego Interior Mais", dirigido a trabalhadores que trabalhem de forma remota ou que vão trabalhar ou criem o seu posto de trabalho nas regiões do interior do país.

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