Filipe Gaspar, da Marcha LGBTQI+ do Porto, lembrou que só há 40 anos a homossexualidade foi descriminalizada em Portugal, “o que demonstra que as nossas conquistas são recentes e o caminho que temos que percorrer pelo fim da discriminação ainda é longo”.
Evocando quem sobreviveu à ditadura, “pessoas que foram criminalizadas, perseguidas, silenciadas e oprimidas”, Filipe alertou que “esta realidade não terminou para muitas pessoas, a quem o direito à dignidade continua a ser sistematicamente negado”.
Na realidade, “as novas e velhas forças reaccionárias, não só da extrema-direita alinham-se para destruir conquistas dos movimentos feministas e LGBTQIA+”, continuou o ativista.
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E é “também por isso”, defende, que “estamos aqui hoje”: “É tempo de união. Tempo de nos fazermos ouvir e gritar bem alto. Não passarão!”, frisou.
Filipe referiu ainda que “a pandemia afectou principalmente as populações mais vulneráveis socialmente, pessoas LGBTI+, especialmente pessoas trans e não-binárias, pessoas em condições de vida precárias”, das quais se destacam “as em situação de sem abrigo, pessoas racializadas, migrantes, refugiadas, trabalhadoras do sexo, comunidades ciganas, mulheres, particularmente as mulheres trans (e todas as pessoas que pertencem a vários destes grupos), agravando um conjunto de desigualdades sociais já existentes”.
O ativista enfatizou que “cabe ao Estado garantir direitos de autodeterminação e autonomia corporal de todas as pessoas, de tornar robusto o serviço nacional de saúde que responda às necessidades das nossas comunidades, que responda com uma escola verdadeiramente inclusiva e com políticas estruturais na educação”. Que “queremos direitos iguais e viver em harmonia com todas as nossas diversidades”.
O Bloco, que “sempre esteve ao lado dos movimentos sociais”, propõe-se “ouvir as inquietações da comunidade, para criar pontes e reforçar” a sua “força no debate parlamentar, criando a sua linha política a partir das bases do ativismo”, explicou.
“Arrogância, conservadorismo e mercantilização”
Maria Manuel Rola destacou o tanto que ainda está por fazer no Porto, onde a “arrogância, conservadorismo e mercantilização” marcam as políticas LGBTQI+, ou a ausência das mesmas.
“Não há planos LGBT, logo não há medidas e políticas transversais que contrariem a discriminação da comunidade LGBT e que incluam a perspetiva de género nas suas políticas locais no âmbito da habitação, do trabalho, contexto escolar, do desporto, do acesso à saúde, do acesso a uma cidade e uma noite segura, ao espaço público, por exemplo”, assinalou a dirigente bloquista.
Acresce que “a direita conservadora nem acede a tomar a iniciativa da realização de uma reunião com as associações e ativistas”.
Maria Manuel Rola denunciou que o Porto, cidade que governa localmente para certas pessoas, “tenta calar e silenciar as necessidades de outras”.
Em causa está “falta de vinculação, descaso das necessidades da comunidade, conservadorismo, arrogância”, apontou.
Evocando Gisberta, vítima mortal de transfobia, que permanece “como um símbolo”, Maria Manuel Rola defendeu que “a mudança tem de ser concreta e é política”.
“Com os movimentos, com quem arrancou a ferros o tanto que se avançou, não tenho dúvidas que isto vai. Vamos a isso. Bons debates”, rematou.
A dirigente bloquista deu assim o pontapé de saída para dois dias de debates, workshops e plenários que celebrarão as vitórias já conquistadas mas também versarão sobre as lutas futuras e o longo caminho que ainda é preciso percorrer. A iniciativa conta com mais de 350 participantes.