Fevereiro de 2025 marca um novo recorde no degelo marinho global

04 de março 2025 - 10:18

O Ártico está a aquecer quatro vezes mais rápido do que a média global e a Antártida três vezes mais rápido.

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José Eustáquio Diniz Alves

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Antártida.
Antártida. Foto de GRID-Arendal.

O mês de fevereiro de 2025 registou mais um triste recorde, com a menor extensão de gelo marinho global, conforme mostra o gráfico abaixo.

Menor quantidade de gelo marinho significa menos proteção para as plataformas de gelo da Gronelândia e da Antártica e menor efeito Albedo (medida de refletividade de uma superfície) que acelera o aquecimento global.

Global Sea Ice
Infográfico: Zack Labe https://zacklabe.com/global-sea-ice-extent-conc/

Nas áreas geladas do Planeta encontram-se, poeticamente, vastas paisagens de neve e gelo banhadas em luz suave, com baleias jubarte e focas-leopardo a cortar mares azuis, além de ursos polares conduzindo os seus filhotes pelo gelo marinho. É também onde se encontram as duas camadas de gelo restantes da Terra: a camada de gelo da Gronelândia, situada abaixo do Polo Norte e a camada de gelo da Antártida, envolta ao redor do Polo Sul.

Juntas, elas desempenham um papel crucial na regulação do clima: estabilizam os níveis do mar (armazenando 98% da água doce da Terra), moderam as temperaturas da superfície (refletindo mais de 80% da radiação solar de volta ao espaço) e recirculam água rica em nutrientes que sustenta a vida marinha (por meio das correntes oceânicas do Atlântico).

O degelo da Gronelândia e a subida do nível dos oceanos

por

José Eustáquio Diniz Alves

15 de fevereiro 2025

As camadas de gelo estão a derreter diante de nossos olhos e vão continuar a derreter por muito tempo ao longo dos próximos séculos. O Ártico está a aquecer quatro vezes mais rápido do que a média global e a Antártida três vezes mais rápido.

Em julho passado, a Antártida atingiu 28ºC acima dos níveis esperados. Se as camadas de gelo derreterem completamente, elevariam o nível global do mar em impressionantes 65 metros.

Estima-se que para cada centímetro de elevação do nível do mar, cerca de seis milhões de pessoas globalmente estão expostas a inundações costeiras – dezenas de metros, então, ameaçariam completamente a civilização humana.

Um dos conceitos reinantes na ciência do clima são os pontos de inflexão – limites críticos que se acredita existirem em todos os sistemas da Terra, incluindo a criosfera (regiões congeladas da Terra) onde as camadas de gelo se sustentam.

Diversos estudos indicam que estamos a perder o controle do derretimento da plataforma de gelo da Antártida Ocidental, com consequências catastróficas.

O recorde de degelo marinho em fevereiro de 2025 veio confirmar as conclusões do artigo “Climate tipping points — too risky to bet against”, publicado na revista Nature (27/11/2019), que mostrou as crescentes evidências de que mudanças irreversíveis já estão a ocorrer nos sistemas ambientais da Terra gerando um “estado de emergência planetário”.

Os autores deixam claro que mais da metade dos pontos críticos do clima identificados estão agora num ponto de não retorno.

Há evidências crescentes de que esses eventos são mais prováveis do que nunca e estão mais interconectados do que se pensava anteriormente, podendo levar a vetores de retroalimentação e a um ameaçador efeito dominó. Um dos pontos de inflexão é o degelo do Ártico, da Gronelândia e da Antártica.

A situação é crítica e requer uma resposta de emergência.


Referências:

ALVES, JED. Recorde de degelo nos polos em julho de 2019, Ecodebate, 09/08/2019

ALVES, JED. O degelo do Ártico e as emissões do permafrost, Ecodebate, 22/01/2020

ALVES, JED. O degelo da Groenlândia e a elevação do nível dos oceanos, 10/02/2025

LENTON, Timothy M. Climate tipping points — too risky to bet against, Nature, 27/11/2019


José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia.

Texto publicado originalmente no EcoDebate. Editado para português de Portugal pelo Esquerda.net.