Está aqui

A extrema-direita israelita intensifica campanha de construção de colonatos

Milhares de pessoas responderam ao apelo da organização Nachala para construir colonatos ilegais a 20 de julho. As organizações de defesa dos direitos humanos denunciam um aumento da violência dos colonos. E o Supremo decidiu depois que um colonato ilegal não pode ser evacuado abrindo um precedente.
Tentativa de criação de um colonato em Kiryat Arba, perto de Hebron. Foto de ABIR SULTAN/EPA/Lusa.
Tentativa de criação de um colonato em Kiryat Arba, perto de Hebron. Foto de ABIR SULTAN/EPA/Lusa.

Uma nova ofensiva de colonização está a ocorrer na Cisjordânia. Segundo relata o Mediapart, no passado dia 20 de julho, milhares de colonos israelitas realizaram uma ação concertada para criar vários novos postos avançados em terras palestinianas.

O apelo para a ação foi lançado pelo movimento de extrema-direita Nachala (que significa “herança” em hebraico). Este procura criar postos avançados em territórios em territórios palestinianos, isto é novos colonatos ao arrepio das próprias leis israelitas segundo as quais novos colonatos precisam, apenas, de uma autorização oficial que passa depois pelo Ministério da Defesa.

A Alice Froussard, do Mediapart, um dos colonos confirmou as intenções: “está escrito: o povo israelita deve espalhar-se sobre toda a terra de Israel. Estamos aqui então para lembrar que este lugar nos pertence e que podemos viver onde quisermos.”

Presente esteve também Itamar Ben Gvir, chefe do partido Otzma Yehudit (“potência judaica” em hebraico) e deputado. O seu objetivo é construir uma “Grande Israel” que vá além da Palestina, incluindo a Jordânia e uma parte da Síria e da Arábia Saudita. Para além dele, houve mensagens de Bezalel Smotrich, líder do Partido Religioso Sionista, de Aryeh Stern, o rabino chefe Ashkenazi de Jerusalém, de vários líderes de outros colonatos. Pelo menos dois parlamentares do Likud, May Golan e Keti Shitrit, defenderam também a criação destes novos colonatos.

A Nachala preparou a operação durante três meses, juntando mais de um milhão de euros para ela, provenientes de 8.000 doadores.

Segundo denuncia a organização não governamental Primeira Urgência Internacional, não é só a colonização que avança mas também a violência. O número de incidentes violentos perpetrados pelos colonos “quase duplicou desde 2020” diz Anthony Dutemple, chefe de missão da organização, e “para além do aumento do número de ataques a intensidade também aumentou: há cada vez mais estragos materiais, feridos graves palestinianos, até mortos”. Desde o início do ano já dois foram mortos por colonos. Isto sem contar com as ameaças, o assédio moral e psicológico, sublinha-se.

Este dirigente associativo defende que as ações da extrema-direita não são um fenómeno de franja mas “fazem verdadeiramente parte da estratégia das autoridades israelitas de ocupar o território”. Uma “anexação de facto” que faz já com que “a população palestiniana não tenha mais acesso aos seus recursos e os meios de subsistência estão em perigo.

Os números de outra ONG, a Peace Now, confirmam a dimensão do problema. Há mais “postos avançados” na Cisjordânia do que colonatos oficiais. Os primeiros são 150 e os segundos são 132.

Acampamentos desmantelados mas ministra do Interior diz que apoiava estes colonatos

Desta vez a ofensiva não aumentou estes números. No próprio dia, alguns militantes da esquerda israelita tinham tentado parar ação mas a polícia dispersara-os. Benny Gantz, o ministro israelita da Defesa, tinha prometido travar a instalação destes colonatos mas deixaram-na avançar.

Contudo, no dia seguinte, as autoridades israelitas desmantelaram mesmo os acampamentos segundo o Times of Israel. Uma decisão que parece não ser unânime no interior do executivo já que a Ayelet Shaked, a ministra do Interior, não só demonstrou apoio à criação dos colonatos ilegais como condenou a ação da sua própria polícia que teria usado “força excessiva”.

Já o Nachala promete voltar à ofensiva.

Supremo decide que colonato ilegal não pode ser despejado

De acordo com o Middle East Eye, na passada quinta-feira a estratégia da extrema-direita voltou a ser endossada oficialmente. O Supremo Tribunal de Israel decidiu contra a evacuação de um destes colonatos não autorizados, o Mitzpe Kramim, uma sentença que estabelece um precedente perigoso que poderá encorajar ainda mais as ações de criação de colonatos.

Este colonato foi criado em 2000 em terra registada oficialmente como sendo pertença de palestinianos perto da aldeia de Deir Jarir, nordeste de Ramallah. Só que os colonos recorreram a uma obscura secção da lei militar chamada “regulações de mercado”. Alegou-se que como as autoridades israelitas não sabiam que a terra era privada da primeira vez que mapearam o local, a ocupação teria sido válida porque feita de “boa fé”. Um tribunal de instância inferior aceitara estas alegações em 2018, depois do recurso dos proprietários legítimos o Supremo tinha anulado esta decisão em 2020, para agora voltar atrás depois do ministro da Defesa ter requerido a revisão da decisão, voltando a insistir na tese da “boa fé” e na disposição das “regulações de mercado” que faz parte de vários outros casos apresentados por colonatos ilegais.

O Peace Now considera que os colonos com esta sentença “vão tentar roubar mais aos palestinianos”, sendo uma “decisão terrível que permitir a legalização retroativa” destas ocupações de terras.

Por sua vez, o Yesh Din, grupo israelita de defesa dos direitos humanos, vê neste “processo dúbio” um intuito sistemático: “como noutros colonatos construídos nos territórios palestinianos ocupados, um sistema inteiro propulsionado pela ideologia do movimento dos colonatos e envolvendo uma pletora de agências estatais conduziu à instalação de um posto avançado em terra privada palestiniana e aos esforços concertados subsequentes para a aprovar retroativamente”.

Termos relacionados Internacional
(...)