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Extrema-direita e movimentos anti-vacinas em manifestações na Europa

Quando voltam a aumentar casos de covid na Europa, manifestantes contra as medidas sanitárias saem às ruas para dizer que a pandemia é um logro e as máscaras uma ditadura. Especialistas alertam que a extrema-direita instrumentaliza o sentimento de rejeição do uso da máscara.
Manifestante "coronacético" em frente ao Parlamento alemão. Agosto de 2020. Foto de CLEMENS BILAN/EPA/Lusa.
Manifestante "coronacético" em frente ao Parlamento alemão. Agosto de 2020. Foto de CLEMENS BILAN/EPA/Lusa.

As teorias da conspiração saíram às ruas de várias cidades europeias. Em nome da “liberdade” e lado a lado com a extrema-direita, movimentos contra as medidas sanitárias de combate à covid-19 manifestaram-se este sábado.

Berlim assistiu à manifestação mais concorrida do dia com 38 mil pessoas. E à mais violenta com cerca de 300 elementos neo-nazis a serem detidos depois de atacarem a polícia com pedras e garrafas e de um outro grupo ter tentado invadir o parlamento alemão.

Sem máscaras e sem distanciamento social, na verdade contra estas medidas, a manifestação foi dispersada pela polícia por desrespeitar as regras em vigor no país. Tinha primeiro sido proibida pela autarquia por questões de saúde mas depois autorizada na sequência de uma decisão em tribunal, sob a condição de seguir algumas regras. Estas, claro, não foram cumpridas porque esse era mesmo o mote da manifestação.

Com mais de mil infeções por dia atualmente, a Alemanha vive um novo aumento de casos de covid-19. Por isso, o governo federal e vários governos regionais impuseram novas restrições esta semana. Na manifestação, as pancartas respondem que se trata de “fake news”.

Em Londres, em Trafalgar Square, os manifestantes foram menos, cerca de mil, mas o discurso similar: exigiu-se o “fim da tirania médica”. Em Zurique seriam mais ou menos a mesma quantidade. E em Paris muito menos ainda, apenas cerca de três centenas. A polícia aplicou multas a quem não trazia máscara. Em Bruxelas foram menos de duzentas e, para além da rejeição da máscara, também se podiam encontrar cartazes contra a rede 5G. Noutras cidades também houve protestos como em Copenhaga ou em Bucareste, por exemplo.

Da net para a rua, do sentimento anti-máscara à manipulação da extrema-direita

Os movimentos contra o uso de máscaras, contra as medidas sanitárias em geral, ou que afirmam mesmo que a pandemia não existe, começaram nas redes sociais. Primeiro sobretudo nos EUA, depois em vários países da Europa com grupos no Facebook a contar milhares de seguidores.

A seguir foram surgindo manifestações em diferentes cidades. A 12 de julho e a 16 de agosto, por exemplo, houve concentrações no centro de Madrid onde havia que dizer coisas como “o vírus não existe” ou “a máscara mata”. Em meados de agosto, em Bruxelas, podiam ler-se mensagens semelhantes numa manifestação. A 29 de agosto Paris também conheceu uma iniciativa semelhante.

A rejeição do uso obrigatório de máscara parece ser a motivação principal que os une, em nome dos direitos e liberdades, dizem. As teses mais extremistas atrairão menos seguidores. À France 24 Marie Peltier, especialista belga nos movimentos que defendem teorias da conspiração, sublinha que no seu “imaginário anti-sistema” a máscara é apresentada como “um elemento imposto pelo sistema política e mediático”. Sendo a recusa de a usar “um ato de resistência”. Apresenta assim estes grupos como “fortemente estruturados por redes de extrema-direita” e que aproveitam a oportunidade para influenciar os menos politizados.

Estes, atraídos pelos organizadores que se dizem “pensadores livres”, serão muitos dos que estiveram nas ruas da Europa este sábado. Manifestantes entrevistados por vários órgãos de comunicação, juravam não ter simpatias fascistas mas não se sentiam incomodados com os neo-nazis que caminhavam a seu lado ou com os apoiantes da teoria da conspiração Qanon cujos símbolos cruzaram agora o Atlântico e apareceram pela primeira vez em iniciativas públicas na Europa.

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