A onda de violência perpetrada pela extrema-direita no Reino Unido continua. Desde 30 de julho já houve ações em pelo 30 cidades.
Segundo as autoridades policiais para esta quarta-feira estão previstos pelo menos 30 ajuntamentos e nos grupos, sobretudo do Telegram, onde as ações são convocadas circula uma lista com a identificação de advogados especializados nas leis de asilo e em direitos humanos e de escritórios e agências de serviços de imigração. O conselho que é dado a milhares de pessoas, só num dos dos canais há 14.000 inscritos, é que vão “mascarados” às 20 horas desta quarta-feira aos locais onde estes se encontram. A Law Society of England and Wales responde que se trata-se de “um assalto direito à nossa profissão legal”.
Para além dos distúrbios nas ruas, os primeiros alvos tinham sido locais onde requerentes de asilo estavam alojados. Em Rotherham, South Yorkshire, manifestantes tentaram incendiar um abrigo temporário, em Sunderland conseguiram despoletar um incêndio num escritório de aconselhamento, e em Tamworth, Staffordshire, invadiram um hotel onde havia migrantes alojados.
Desde o início do surto de violência já foram presos cerca de 428 pessoas com pelo menos 120 acusadas de desordem violenta. Alguns estão já a ser condenados pelos tribunais a penas de prisão.
Entretanto, os ataques alastraram à Irlanda do Norte com a polícia a indicar terem sido cometidos na noite de terça-feira vários crimes de ódio, incluindo um ataque a um jovem.
Racismo
Extrema-direita lança caos no Reino Unido com manifestações xenófobas e violentas
A organização Hope Not Hate afirma tratar-se “possivelmente da onda de violência de extrema-direita mais generalizada no período do pós-guerra”. Identificou no coração dela membros da English Defence League, da Patriotic Alternativ e vários integrantes de claques de futebol, alguns com condenações anteriores por racismo.
Num segundo comunicado sobre a situação salienta que a “ampla circulação” da lista de alvos “causou muita angústia, desconforto e medo”.
A resistência antifascista também está nas ruas
Para esta quarta-feira também estão marcadas ações de defesa frente aos escritórios ameaçados pela extrema-direita britânica e no próximo sábado, dia 10, haverá manifestações em muitas das cidades do Reino Unido.
Ao longo dos últimos dias múltiplas convocatórias anti-fascistas fizeram com que várias das ações de extrema-direita acabassem por não ocorrem. São exemplo disso Cardiff, Doncaster, Wrexham, Swindon, Nottingham, Preston, Leicester, Torquay e High Wycombe.
Nesta terça-feira, numa declaração publicada no Daily Mirror e promovida pelo Stand Up to Racism mais de cem políticos, artistas, desportistas, sindicalistas, ativistas e militantes antiracistas tomaram posição contra os “motins fascistas” que levaram a ataques a mesquitas e a hotéis onde estão alojados migrantes.
Querem contrariar o crescimento do racismo, islamofobia e ódio de que explora “o horroroso ataque” de Southport e apelam a todos a que se opõe isto para que se juntem “num poderoso movimento de massas que seja suficientemente poderoso para vencer o fascismo”.
A extrema-direita, os motins e as notícias falsas
Esta onda de violência começou depois de a 29 de julho um rapaz de 17 anos ter apunhalado várias crianças, três das quais morreram, e dois adultos que os tentaram defender em Southport. Imediatamente, circularam notícias falsas que os crimes tinham sido cometidos por um requerente de asilo de fé islâmica que tinha chegado num barco através do canal da Mancha. Soube-se depois que o menor tinha nascido no País de Gales sendo filho de pais ruandeses.
Um dos mais fortes difusores de desinformação foi a conta especializada em racismo Europe Invasion mas esta foi reforçada por figuras de extrema-direita como Tommy Robinson, militante histórico da English Defence League, e Andrew Tate. E depois pelo líder do partido Reform, Nigel Farage.