Terão sido entre 500 a 600 portugueses vítimas dos campos de concentração, de prisioneiros e de trabalho forçado dos nazis. Esta é uma realidade de que pouco se tem falado mas que agora ganha uma mostra.
A exposição “Resistir! Os Portugueses no Sistema Concentracionário do III Reich” foi inaugurada no passado sábado e vai estar patente até 4 de maio no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira. Tem a curadoria de Fernando Rosas, Ansgar Schaefer, António Carvalho, Cláudia Ninhos e Cristina Clímaco.
O regime nazi alemão deportou milhões de civis estrangeiros dos países que ocupou e que junto com prisioneiros de guerra e dos prisioneiros dos campos de concentração, foram utilizados como mão-de-obra escrava para a sua economia de guerra. Isto incluiu várias centenas de portugueses, deportados sobretudo a partir de França e que acabaram em campos de concentração, em prisões do regime, campos de prisioneiros de guerra ou forçados a trabalhar para os nazis.
Fernando Rosas, o coordenador do projeto de investigação na base da mostra, sublinha que é “uma realidade muito desconhecida” e “uma forma de prestar homenagem àqueles que deram a vida e deram a saúde, praticamente sem reconhecimento durante muitos anos”.
À TSF, o historiador realça que num momento “em que as democracias do ocidente vivem um entardecer sombrio” é preciso divulgar “o lado negro da história que a censura do Estado Novo fazia questão de manter em segredo”. Para além das instruções à censura para não falar disso, não há diligências para libertar nenhuns dos prisioneiros, deixando-os assim à sua sorte.
O tema está a ser investigado e Fernando Rosas dá conta de uma realidade de fome, doença, espancamentos, agressões, de trabalho 12,14 horas “praticamente sem comida” que resulta na morte dos prisioneiros em muitos casos. “50% dos que detetámos ficaram lá”, mortos dentro dos campos ou pouco depois por causa das sequelas, acrescenta, e “não resistiam mais de um ano”.
O número de envolvidos, revela, pode chegar a 500 ou 600. A investigação ainda decorre, o que se passou na Bélgica ainda não foi estudado, ressalva, mas, até agora descobriram-se quatro condenados à morte, uns 108 em prisões e campos de concentração e cerca de 300 nos campos de prisioneiros de guerra.
A maior fatia serão os que eram imigrantes em França quando os nazis a ocuparam. Alguns participavam em unidades militares francesas na altura. Há ainda os que estiveram a combater na Guerra Civil Espanhola e que fugiram pelos Pirenéus mas acabaram internados em campos pelos franceses. “Quando a Alemanha entra na França, uma parte deles é levada diretamente para os campos de concentração”. Ou seja, “tudo o que lhes cheirasse serem elementos ligados ao Partido Comunista, às brigadas internacionais, aos anarquistas tiveram esse destino.