Sindicalismo

Ex-dirigentes da CGTP criticam fechamento e sectarismo na central

21 de junho 2024 - 10:12

Numa carta aberta à estrutura sindical querem recuperar a “matriz original” da central sindical, defendendo “democracia interna”, “participação sem discriminação”, “transparência”, “autonomia e independência”.

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XV Congresso da CGTP
XV Congresso da CGTP. Foto da CGTP/Flickr.

34 ex-dirigentes da CGTP lançaram uma carta aberta  em que alertam para vários problemas no interior da central sindical. Dizem que há a “ausência de respostas” para os novos problemas e desafios que os trabalhadores enfrentam e acusam a direção de uma “deriva sectária” e “falta de transparência”.

Os signatários, que pertenceram à Comissão Executiva, ao Conselho Nacional, à direção de Federações e Sindicatos filiados na central, destacam o que consideram ser uma “ausência de respostas” aos “novos problemas e grandes desafios, como a precariedade, os novos empregos e tipos de contrato ou plataformas” e num momento em que “se impõe a redução e reorganização do tempo de trabalho, os algoritmos tomam conta da vida laboral” e há “a emergência climática destrói empregos e as multicrises e as transições digital e energética ameaçam os empregos”.

No seguimento de um “Congresso em que se exigia renovação de pessoas e métodos, a CGTP adotou um ainda maior fechamento, deixando de ter nos seus órgãos executivos quem, pela sua representatividade e presença ativa nos locais de trabalho, tem de ser tido em conta e assumir um papel mais relevante na condução da luta que é de todos, consideram.

Para disso, afirmam no documento intitulado "o alerta necessário": “Quando precisamos de redes, cooperação e solidariedade europeia, vemos uma prática isolacionista que em nada beneficia uma resposta eficiente do todo sindical, que, para além das diferenças, que existem, precisa de unidade na ação. Quando se impõe ousadia e compromisso, renovação e inovação sindical, temos uma deriva sectária, falta de transparência, duvidosa representatividade, burocracia sindical ao serviço de estratégias alheias e negacionismo da sua própria crise”.

Indicam ainda a existência de “falta de funcionamento democrático” já que “o Conselho Nacional confederal reuniu dois anos e meio sem a participação de todos os sindicalistas socialistas; quando a simples distribuição das propostas alternativas, vindas da corrente socialista ou da corrente bloquista, foi sistematicamente recusada; e quando se esperaria que o congresso último resolvesse o diferendo e engrandecesse o projeto unitário, este assumiu a rutura e os sindicalistas socialistas ficaram ineditamente fora da Comissão Executiva, para onde, mais uma vez, os sindicalistas bloquistas foram barrados”.

Exemplificam ainda com o que sucedeu nas comemorações do 1º de Maio deste ano “principalmente no Porto” que ficaram marcadas “por um separatismo social inexplicável, expulsando do desfile organizações diversas, chamando até a polícia para tal impor”, situação que na altura mereceu o repúdio de um grupo de conselheiros nacionais da confederação sindical.

Acreditam que “a composição político-partidária da direção da CGTP não tem hoje autonomia nem correspondência alguma com a realidade sociopolítica em terreno laboral”, estando-se a assistir ao “domínio e controlo de uma força partidária”.

Apelam ainda ao “reforço e abertura da organização, a unidade, a capacidade de propor, lutar, negociar com ganhos” tanto mais necessários quando somos “governados pela direita” e “com a extrema-direita em crescendo”.

Apontam uma perda de “credibilidade” e um desgaste do “seu rico capital histórico”, numa central sindical “cada vez menos de massas e muito menos autónoma”. Pretendem recuperar o “caráter unitário” da organização e que se aplique uma “democracia inclusiva” que desenvolva “um debate amplo e participado” para“responder às mudanças profundas e novos desafios do mundo do trabalho”.

Para eles, trata-se de recuperar a “matriz original” da força sindical, acrescentando que “é preciso democracia interna, controlo democrático e participação sem discriminação! É preciso transparência! É urgente o fim do centralismo autoritário e sectário da atual maioria! É preciso autonomia e independência! É preciso unidade a sério! É urgente que todos os que querem um sindicalismo de classe, democrático, autónomo e solidário tenham lugar e se sintam bem na CGTP!”.

Subscrevem a carta os ex-membros da Comissão Executiva Adão Mendes, Américo Monteiro Oliveira, Armindo Carvalho, Augusta de Sousa, Carlos João Tomás, Carlos Trindade, Eduardo Chagas, Emídio Martins, Fernando Jorge Fernandes, Florival Lança, Maria Conceição Rodrigues, Maria Fátima Carvalho, Ulisses Garrido e Vivalda Silva.

Também são subscritores António Avelãs, António Gomes, António Guerreiro, António Morais, Augusto Pascoal, Branco Viana, Carlos Amado, Carlos Lopes, Deolinda Martin, Fernando Fidalgo, Fernando Lima, Francisco Alves, João Maneta, José Costa Velho, José Pinheiro Manuel Grilo, Manuel Pinto Silva, Maria Graça Silva, Maria José Miranda e Mariana Aiveca, os ex-membros do Conselho Nacional.

E, enquanto ex-dirigentes de sindicatos ou uniões de sindicatos: Cipriano Pisco, Vitor Brilhante, Vitor Cavalinho e Jorge Magalhães.

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