EUA: o país que não consegue respirar revolta-se

31 de maio 2020 - 17:56

O assassinato de George Floyd às mãos da polícia continua a gerar ondas de choque por todo o país. Na madrugada deste sábado, houve manifestações e confrontos com a polícia em dezenas de cidades e, em algumas, foi declarado o recolher obrigatório. Um manifestante foi morto por um disparo de origem desconhecida.

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Manifestantes em Los Angeles. Foto de ETIENNE LAURENT/EPA/Lusa.
Manifestantes em Los Angeles. Foto de ETIENNE LAURENT/EPA/Lusa.

As ondas de choque na sequência do assassinato de George Floyd atravessam os Estados Unidos. O afro-americano de 46 anos foi assassinado por um polícia, Derek Chauvin, que lhe esmagava o pescoço com um joelho enquanto ele dizia que não conseguia respirar.

Ao contrário da quase totalidade das mais de mil mortes que ocorreram no país no ano passado devido a balas da polícia, números avançados pelo Washington Post, estes oito minutos de agonia foram filmados e divulgados nas redes sociais. Floyd estava a ser detido devido a um alegado pagamento com uma nota falsa de 20 dólares numa loja. Já o polícia enfrenta agora a acusação de homicídio de “terceiro grau”, o que no Minnesota significa um crime “sem intenção de causar a morte de ninguém, que resulta na morte de outrem através de um ato eminentemente perigoso que evidencia uma mente depravada sem respeito pela vida humana”.

Inicialmente, os quatro polícias envolvidos tinham sido apenas suspensos de funções. A acusação posterior não foi suficiente para parar a revolta que se voltou a manifestar na noite deste sábado um pouco por todo o país. Houve desde manifestações pacíficas com cartazes e palavras de ordem, a imensa maioria segundo a Associated Press, a bloqueios de estrada, ataques a carros de polícia e esquadras, a saques de grandes lojas nos centros das cidades.

Minneapolis, Atlanta, Chicago, Columbus, Denver, Filadélfia, Los Angeles, Louisville, Miami, Milwaukee, Pittsburg, Portland, São Francisco, Salt Lake City foram algumas das cidades onde foi imposto o recolher obrigatório. Governadores de seis estados pediram a intervenção da guarda nacional entre os quais o Colorado, o distrito de Columbia, a Georgia, Kentucky e o Minnesota.

Segundo a Associated Press, cerca de 1.400 pessoas já foram presas desde o início dos protestos.

Vários jornalistas acusam as autoridades de terem sido atacados com gás pimenta pela polícia mesmo depois de se identificarem como tal e elementos de meios de comunicação mainstream como a Reuters, a CNN e a MSNBC foram atingidos por balas de borracha.

Na passada sexta-feira, aconteceu outro assassinato. Em Detroit, um carro passou pela manifestação e matou um jovem de 21 anos.

Manifestações à porta da Casa Branca, Trump ameaça

O presidente do país, em diversas mensagens no Twitter acusa manifestantes profissionais, “anarquistas” “antifa” e elementos da “esquerda radical” de serem responsáveis por distúrbios, de “aterrorizarem os inocentes, destruir empregos, ferir negócios e incendiar edifícios”. Ainda nas palavras de Trump as autoridades do Minnesota deviam atuar de forma “mais dura” porque “sendo duras a memória de George Floyd é honrada”.

As manifestações chegaram-lhe à porta. Centenas de manifestantes gritaram em frente à Casa Branca: “não consigo respirar”, “No justice, no peace”, “Black Lives Matter” e “Fuck Donald Trump!”. Trump respondeu-lhes ameaçando-os com “os cães mais cruéis e as armas mais ameaçadoras que eu já vi”. Os críticos lembraram-lhe que mandar cães contra pessoas eram uma prática esclavagista a América do passado.

Ainda na sexta-feira, passadas horas do início do protesto, a polícia declarou-o ilegal, ordenou a evacuação e acabou por avançar com escudos e gás pimenta. Os serviços secretos norte-americanos participara na ação policial.

Logo no início das manifestações escrevera “quando as pilhagens começam, os disparos começam”, uma frase que tinha proporcionado mais um momento da sua guerra com o Twitter com a plataforma a considerá-la como um potencial apelo à violência.

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