O projeto humorístico Jovem Conservador de Direita conseguiu chegar à fala com Miguel Arruda, o deputado que o Chega elegeu pelo círculo dos Açores e que quando vinha a Lisboa trabalhar é suspeito de se dedicar a roubar malas dos passageiros - entre eles alguns açorianos - no aeroporto Humberto Delgado. No telefonema ao deputado agora não-inscrito, um dos humoristas faz-se passar por um membro de um suposto grupo intitulado “Geração e Identidade” e diz a Arruda que “foi o Mário” que lhe deu o seu contacto.
Em seguida, o suposto extremista de direita mostra-se indignado com os rumores acerca da iminente renúncia ao cargo de deputado, o que Arruda desmente de imediato: “Eu estive a dormir até agora. Se eu disse isso, foi a ressonar ou a sonhar”, respondeu.
Extrema-direita
Apanhado a roubar no aeroporto continuará deputado ao lado do Chega
A conversa prossegue com o humorista a dar conta de um plano pra o seu movimento que depende da presença de Arruda na Assembleia da República. É aqui que o deputado eleito pelo Chega repete várias vezes “Eu pertenço ao Mário [Machado]”. A conversa adquire então contornos hilariantes, com o humorista a questionar Arruda se irá aproveitar as visitas conjugais à prisão onde Machado será preso em fevereiro para cumprir pena e dessa forma ter a privacidade necessária para gizar o dito plano.
"eu pertenço ao Mário" pic.twitter.com/5l6LkIhX8G
— Jovem Conservador de Direita (@JCdeDireita) January 30, 2025
O vídeo da chamada foi publicado nas redes sociais e depressa alcançou muitos milhares de visualizações. Contactado pelo Expresso, Arruda diz que também se riu, mas que foi tudo “uma paródia” e que o conteúdo é “falso”. Os autores do vídeo confirmaram que a conversa foi real e feita através do número pessoal do deputado, o mesmo que o Expresso usou para lhe falar. A proximidade entre Arruda e Machado é pública e manifestou-se em várias trocas de mensagens de apoio nas redes sociais, a mais recente com o deputado a pedir a Elon Musk que os EUA deem asilo político para evitar o regresso à prisão do neonazi, agora condenado a cumprir dois anos e 10 meses de prisão efetiva por incitamento ao ódio e violência contra mulheres nas redes sociais. Ambos são representados pelo mesmo advogado de defesa nos crimes em que estão envolvidos.
Segundo Arruda afirmou no telefonema, e também em declarações ao Correio da Manhã, está sob medicação e isso impede-o de ter um discurso coerente. Este diário diz ter encontrado Arruda “acidentalmente na rua” visivelmente confuso e “com as calças vestidas do avesso”. Sobre o roubo das malas, insiste que é inocente e fala de uma cabala do PS e do Bloco, acrescentando que o Chega não o deixa prestar declarações.
Numa ilha onde não é difícil encontrar alguém, o eleito do Chega está também a ser confrontado por eleitores e também pelas potenciais vítimas. “Veio cá um rapaz para a porta tentar falar com ele. Desapareceu-lhe a mala da noiva. Queria as coisas dele de volta”, contou um vizinho ao Correio da Manhã.