Apesar de ter sido apanhado pela polícia esta terça-feira com uma mala que não lhe pertencia e de a polícia ter imagens de videovigilância da zona de bagagens a mostrar o modus operandi dos furtos do deputado do Chega eleito pelos Açores, Miguel Arruda quer continuar na Assembleia da República a auferir o salário de deputado, acrescido dos subsídios de deslocação a Ponta Delgada, até 2028, quando termina a atual legislatura.
A notícia foi avançada pela imprensa esta quinta-feira ao início da tarde e tudo indica que esse terá sido o desfecho negociado com André Ventura: em vez de 50 deputados, o partido ficará com 49, mas contará com o voto do seu eleito açoriano, mantendo na prática o mesmo peso que hoje tem na Assembleia da República. A saída permitirá ao líder do Chega dizer que o partido reagiu com firmeza face à conduta do deputado, pondo-lhe “as malas à porta” do grupo parlamentar. No sentido figurado e literal: segundo o portal Observador, várias pessoas já viram malas no seu gabinete e era habitual vê-lo passar nos corredores de São Bento com malas “bem maiores do que aquelas que os deputados levam para passar uns dias fora”.
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Para Miguel Arruda, que em campanha acusava os restantes deputados dos Açores de estarem agarrados aos “tachos”, a continuidade no Parlamento ao lado do Chega - onde se tem destacado pelos apartes insultuosos em voz alta durante as intervenções das restantes bancadas - garante-lhe um rendimento muito superior ao que alguma vez auferiu e a oportunidade de continuar a viajar semanalmente entre Lisboa e Ponta Delgada.
Deputado admitiu furtos, mas declarações não servirão em tribunal
A técnica da “matrioska” é um modus operandi usado com frequência pelos ladrões de bagagens e as imagens de videovigilância do aeroporto, noticiou a SIC, mostram Miguel Arruda a executá-la, ao retirar a sua mala de grandes dimensões e uma outra do tapete rolante e em seguida dirigir-se a uma casa de banho, de onde sai apenas com a sua mala gigante.
Esta terça-feira não havia “matrioska” para o deputado usar. Segundo a CNN Portugal, Miguel Arruda trazia apenas bagagem de mão, mas isso não o demoveu a passar pelo tapete de bagagens e “servir-se” de uma mala. Sem imaginar que tinha à espera no aeroporto uma procuradora do Ministério Público, Miguel Arruda foi interpelado por um agente da Divisão de Investigação Criminal da PSP e tentou desculpar-se com um “engano”. Mas a polícia já tinha registado em vídeo outros enganos nos últimos meses, todos tendo como vítimas passageiros oriundos da ilha de São Miguel.
Já acompanhado pela polícia nas buscas à casa onde vive e guarda as malas em Lisboa, Arruda terá admitido ser o autor dos furtos, revelou o Expresso. Mas essas declarações de pouco servirão em tribunal, pois não se tratou de um interrogatório. Embora constituído arguido, só poderá ser interrogado após lhe ser levantada a imunidade parlamentar. Na buscas foram apreendidas várias malas de viagem e objetos valiosos, como jóias, relógios e roupas.
Advogado de Arruda e líder do Chega/Açores clamam inocência
Miguel Arruda contratou para o defender José Manuel Castro, o advogado conhecido do grande público por representar o neonazi Mário Machado nos seus vários processos judiciais nas últimas décadas. O deputado do Chega nunca escondeu a admiração que nutre por Machado, a quem chamou de “prisioneiro político” num apelo feito a Elon Musk para que os EUA lhe deem asilo político.
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"Acompanhei as buscas em Lisboa e acho que a investigação se precipitou. O meu cliente está inocente”, garantiu o advogado, acrescentando que Arruda "foi apanhado neste turbilhão" e sem deixar de apontar o dedo ao “aproveitamento político” à custa da operação policial.
Também o líder do Chega/Açores veio a público assegurar que Miguel Arruda “não é propriamente um ladrão de malas" e que ele próprio, José Pacheco, já pegou em malas alheias por engano. Segundo o Expresso, Pacheco apontou a mira à comunicação social por estar a conduzir “uma camala" (o deputado regional quereria referir-se a uma cabala) contra "o próprio Chega". E por isso propôs que se faça legislação “que penalize forte e violentamente todo o jornalista que dê uma má notícia e que ponha em causa o bom nome das pessoas".
Conta em site de venda de roupa em segunda mão tinha o nome do deputado
Esta quinta-feira, o comentador e militante socialista Miguel Prata Roque divulgou nas redes sociais a existência da conta “miguelarruda84” na aplicação Vinted, de venda de roupa usada, com 56 artigos à venda.
"Alguém nascido em 1984, que criou o seu perfil na Vinted (uma aplicação informática para vendas on-line de artigos já usados), há 8 meses atrás, curiosamente quando os deputados à Assembleia da República tomaram posse”, escreveu Prata Roque, referindo-se ao ano de nascimento e à coincidência de datas entre a abertura do “negócio online” e o início das viagens semanais de Miguel Arruda entre Ponta Delgada e Lisboa.
A classificação do vendedor, feita por 185 clientes, é bastante positiva, embora não alcance as 5 estrelas, permitindo concluir que nem todos ficaram 100% satisfeitos com o artigo adquirido. A conta foi apagada pouco depois da divulgação pública.