Extrema-direita

Apanhado a roubar no aeroporto continuará deputado ao lado do Chega

23 de janeiro 2025 - 16:54

Contribuintes pagarão salários do deputado de extrema-direita até 2028. Polícia já esperava Miguel Arruda no aeroporto e apanhou-o a furtar a última mala. Conta em site de venda de roupa em segunda mão tinha o nome do deputado.

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Faixa "Bandidos" na manifestação do Chega

Apesar de ter sido apanhado pela polícia esta terça-feira com uma mala que não lhe pertencia e de a polícia ter imagens de videovigilância da zona de bagagens a mostrar o modus operandi dos furtos do deputado do Chega eleito pelos Açores, Miguel Arruda quer continuar na Assembleia da República a auferir o salário de deputado, acrescido dos subsídios de deslocação a Ponta Delgada, até 2028, quando termina a atual legislatura.

A notícia foi avançada pela imprensa esta quinta-feira ao início da tarde e tudo indica que esse terá sido o desfecho negociado com André Ventura: em vez de 50 deputados, o partido ficará com 49, mas contará com o voto do seu eleito açoriano, mantendo na prática o mesmo peso que hoje tem na Assembleia da República. A saída permitirá ao líder do Chega dizer que o partido reagiu com firmeza face à conduta do deputado, pondo-lhe “as malas à porta” do grupo parlamentar. No sentido figurado e literal: segundo o portal Observador, várias pessoas já viram malas no seu gabinete e era habitual vê-lo passar nos corredores de São Bento com malas “bem maiores do que aquelas que os deputados levam para passar uns dias fora”.

Para Miguel Arruda, que em campanha acusava os restantes deputados dos Açores de estarem agarrados aos “tachos”, a continuidade no Parlamento ao lado do Chega - onde se tem destacado pelos apartes insultuosos em voz alta durante as intervenções das restantes bancadas - garante-lhe um rendimento muito superior ao que alguma vez auferiu e a oportunidade de continuar a viajar semanalmente entre Lisboa e Ponta Delgada.

Deputado admitiu furtos, mas declarações não servirão em tribunal

A técnica da “matrioska” é um modus operandi usado com frequência pelos ladrões de bagagens e as imagens de videovigilância do aeroporto, noticiou a SIC, mostram Miguel Arruda a executá-la, ao retirar a sua mala de grandes dimensões e uma outra do tapete rolante e em seguida dirigir-se a uma casa de banho, de onde sai apenas com a sua mala gigante.

Esta terça-feira não havia “matrioska” para o deputado usar. Segundo a CNN Portugal, Miguel Arruda trazia apenas bagagem de mão, mas isso não o demoveu a passar pelo tapete de bagagens e “servir-se” de uma mala. Sem imaginar que tinha à espera no aeroporto uma procuradora do Ministério Público, Miguel Arruda foi interpelado por um agente da Divisão de Investigação Criminal da PSP e tentou desculpar-se com um “engano”. Mas a polícia já tinha registado em vídeo outros enganos nos últimos meses, todos tendo como vítimas passageiros oriundos da ilha de São Miguel.

Já acompanhado pela polícia nas buscas à casa onde vive e guarda as malas em Lisboa, Arruda terá admitido ser o autor dos furtos, revelou o Expresso. Mas essas declarações de pouco servirão em tribunal, pois não se tratou de um interrogatório. Embora constituído arguido, só poderá ser interrogado após lhe ser levantada a imunidade parlamentar. Na buscas foram apreendidas várias malas de viagem e objetos valiosos, como jóias, relógios e roupas.

Advogado de Arruda e líder do Chega/Açores clamam inocência

Miguel Arruda contratou para o defender José Manuel Castro, o advogado conhecido do grande público por representar o neonazi Mário Machado nos seus vários processos judiciais nas últimas décadas. O deputado do Chega nunca escondeu a admiração que nutre por Machado, a quem chamou de “prisioneiro político” num apelo feito a Elon Musk para que os EUA lhe deem asilo político.

"Acompanhei as buscas em Lisboa e acho que a investigação se precipitou. O meu cliente está inocente”, garantiu o advogado, acrescentando que Arruda "foi apanhado neste turbilhão" e sem deixar de apontar o dedo ao “aproveitamento político” à custa da operação policial.

Também o líder do Chega/Açores veio a público assegurar que Miguel Arruda “não é propriamente um ladrão de malas" e que ele próprio, José Pacheco, já pegou em malas alheias por engano. Segundo o Expresso, Pacheco apontou a mira à comunicação social por estar a conduzir “uma camala" (o deputado regional quereria referir-se a uma cabala) contra "o próprio Chega". E por isso propôs que se faça legislação “que penalize forte e violentamente todo o jornalista que dê uma má notícia e que ponha em causa o bom nome das pessoas".

Conta em site de venda de roupa em segunda mão tinha o nome do deputado

Esta quinta-feira, o comentador e militante socialista Miguel Prata Roque divulgou nas redes sociais a existência da conta “miguelarruda84” na aplicação Vinted, de venda de roupa usada, com 56 artigos à venda.

"Alguém nascido em 1984, que criou o seu perfil na Vinted (uma aplicação informática para vendas on-line de artigos já usados), há 8 meses atrás, curiosamente quando os deputados à Assembleia da República tomaram posse”, escreveu Prata Roque, referindo-se ao ano de nascimento e à coincidência de datas entre a abertura do “negócio online” e o início das viagens semanais de Miguel Arruda entre Ponta Delgada e Lisboa.

A classificação do vendedor, feita por 185 clientes, é bastante positiva, embora não alcance as 5 estrelas, permitindo concluir que nem todos ficaram 100% satisfeitos com o artigo adquirido. A conta foi apagada pouco depois da divulgação pública.