Estudante saudita condenada a 34 anos de prisão por usar Twitter

18 de agosto 2022 - 11:19

Salma al-Shehab foi detida no final de 2020 ao regressar de Inglaterra, onde estudava. Agora foi condenada por seguir e partilhar mensagens de dissidentes na rede social com a pena de prisão mais longa aplicada a ativistas.

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Salma al-Shehab. Foto Democracy Now

Com 34 anos e dois filhos de 4 e 6 anos, Salma al-Shehab nunca foi vista como uma ativista proeminente na Arábia Saudita ou no Reino Unido, onde fazia o doutoramento na Universidade de Leeds desde 2018. Na rede social Twitter contava com cerca de 2.600 seguidores e por vezes partilhava apelos à libertação dos presos políticos no seu país, como a feminista Loujain al-Hathloul, defensora do direito das mulheres a conduzir e que foi presa e torturada pelo regime.

Quando regressou à Arábia Saudita nas férias do final de 2020, foi interrogada e detida, acabando por ser condenada a três anos de prisão pelo crime de usar um site na internet para "causar tumulto público e desestabilizar a segurança nacional", cumprindo parte da pena em solitária. Agora, poucas semanas depois da visita do presidente norte-americano à Arábia Saudita, o tribunal de recurso incluiu novas acusações, como a de "auxílio aos que procuram causar tumulto público e desestabilizar a segurança nacional ao seguir as suas contas no Twitter" e partilhar as suas publicações. E aumentou a pena para 34 anos de prisão, a duração mais longa até agora aplicada aos acusados por dissidência política, revela o Guardian.

O fundo soberano da Arábia Saudita é um dos acionistas de referência do Twitter e uma investigação dos EUA descobriu uma infiltração na empresa que em 2014 e 2015 retirou o anonimato a alguns ativistas sauditas, que foram depois presos. Ahmad Abouammo, então funcionário da rede social com dupla nacionalidade libanesa e estadunidense, foi condenado na semana passada por espionagem nos EUA e confessou ter entregue os dados pessoais dos ativistas a um colaborador próximo do príncipe Mohammed bin Salman, em troca de um relógio de luxo e de um depósito de 300 mil dólares numa conta bancária libanesa em nome do seu pai. Esse colaborador é Bader al-Asaker e apesar de referido na acusação como o autor dos pagamentos para obter a informação confidencial sobre a identidade dos utilizadores do Twitter, ainda hoje conserva o "selo azul" de confiança que a rede social atribui a personalidades e marcas relevantes.

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