O Ministério do Interior da Arábia Saudita anunciou ter aplicado a pena de morte a 81 condenados por "terrorismo e crimes graves". Segundo a Associated Press, trata-se de 73 sauditas, sete iemenitas e um sírio. O governo saudita diz que alguns pertenciam a grupos terroristas como a Al Qaeda, Estado Islâmico e também aos rebeldes houthis. Entre os crimes que lhes valeram a condenação estavam rapto, tortura, violação, tráfico de armas e bombas, planeamento de atentados contra elementos do governo e locais vitais para a economia do país, homicídio de agentes de segurança e colocação de minas terrestres contra veículos policiais. Segundo a Reuters, 37 dos executados foram condenados no mesmo processo de tentativa de assassinato de polícias e ataques a esquadras e veículos.
A dimensão desta execução em massa não encontra paralelo nas últimas décadas e ultrapassa o número total de execuções do ano passado (67), bem como o da execução coletiva em 1980 de 63 pessoas que tinham tomado reféns na Grande Mesquita de Meca. Ainda segundo a Reuters, metade dos executados no sábado eram xiitas, o que terá contribuído para a reação imediata do Irão, ao anunciar este domingo a suspensão das conversações com a Arábia Saudita, cuja quinta ronda iria ter início esta semana. Os dois países apoiam fações rivais na guerra que travam no Iémen há sete anos, com já o tinham feito na Síria, Líbano e Iraque. As autoridades houthi também condenaram as execuções e afirmam que dois "prisioneiros de guerra" estão entre os mortos.
"Não podemos mostrar a nossa repulsa pelas atrocidades de Putin, recompensando as de Mohammed Bin Salman"
Embora o governo saudita não tenha revelado o método de execução, a prática comum no país é a decapitação. Para a ONG britânica Reprieve, "o mundo já deve ter percebido que quando Mohammed Bin Salman promete reformas, vem aí um banho de sangue", lembrando que ainda na semana passada o príncipe herdeiro disse aos jornalistas que pretende modernizar o sistema de justiça criminal. "Há prisioneiros de consciência no corredor da morte saudita, e outros presos como crianças ou acusados de crimes não violentos. Tememos por cada um deles, após esta brutal manifestação de impunidade", acrescenta a organização, concluindo com um apelo a Boris Johnson para que cancele a sua viagem à Arábia Saudita, prevista para daqui a poucos dias, e condene estes assassinatos.
"Esta semana, Boris Johnson deverá visitar a Arábia Saudita - para mendigar petróleo à Arábia Saudita para substituir o gás russo. Não podemos mostrar a nossa repulsa pelas atrocidades de Putin, recompensando as de Mohammed Bin Salman", defendeu a Reprive num abaixo-assinado que reuniu mais de 10 mil assinaturas em poucas horas.
Também o deputado e ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn veio a público defender que Boris Johnson "deve cancelar a sua visita e pôr fim ao negócio de armas do Reino Unido com um governo que ceifou tantas vidas em casa e no Iémen". Segundo a Sky News, fontes de Downing Street afirmam que os detalhes da viagem não estão concluídos e que Boris se considera o líder do G7 melhor colocado para convencer bin Salman, com quem tem trocado mensagens no Whatsapp.
Numa altura em que os países procuram alternativas ao petróleo e gás russo e evitar uma escalada ainda maior nos preços, o que implicaria o aumento de produção nos maiores produtores árabes, Bin Salman fez saber na semana passada que tinha recusado um telefonema de Joe Biden. No ano passado, o presidente norte-americano responsabilizou o príncipe herdeiro pelo macabro assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul em 2018. A marcação desta execução coletiva para uma altura que os líderes ocidentais batem à porta da monarquia saudita ganha assim um evidente significado político.