Brasil

Estafetas das aplicações em greve nacional de dois dias

01 de abril 2025 - 11:26

Os estafetas brasileiros estão em luta por melhores remunerações mas também por condições de segurança no trabalho. Devido aos baixos rendimentos são obrigados a trabalhar cada vez mais com consequências trágicas no número de acidentes.

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Foto Atam
Foto Atam

Chamam-lhe o “Breque nacional das Apps 2025”, é uma greve de dois dias que atinge todo o Brasil e começou esta segunda-feira. Os estafetas brasileiros, organizados sobretudo através de grupos no de Whatsapp, têm mobilizações marcadas em pelos menos 60 cidades do país, exigindo melhores remunerações, nomeadamente uma taxa mínima por serviço de dez reais.

A luta é apoiada ainda pelo movimento Vida Além do Trabalho, que luta no Brasil contra a escala de seis dias de trabalho e apenas um de descanso, e protagonizada por organizações como a Aliança Nacional dos Entregadores de Aplicativos e Associação dos Trabalhadores de Aplicativos e Motociclistas.

Da lista de reivindicações fazem parte ainda um aumento de 1,50 reais para 2,50 por quilómetro, um raio limite de três quilómetros para entregas de bicicleta e o pagamento integral por serviço mesmo quando vários pedidos sejam agregados na mesma rota.

Os estafetas em luta organizaram um abaixo-assinado online, que recolheu perto de 4.700 assinaturas, no qual denunciam que “há três anos as plataformas não reajustam ganhos”, enquanto que “tudo está mais caro: comida, água, luz, gasolina, manutenção da moto/bike, utensílios domésticos e por aí vai…” Consideram assim que isso “inviabiliza” a sua sobrevivência e que “está na hora do basta”.

Ao Brasil de Fato, Abel Rodrigues dos Santos, diretor da Atam, reforça essa mensagem: “estamos aqui fazendo essa luta desde 2019, porque a pauta não muda. Não tivemos uma real melhora por parte das empresas de aplicativo”. Ainda houve um reajuste em 2022 mas não trouxe nenhum ganho real de poder de compra, “rodamos mais, gastamos mais gasolina, desgastamos nossos veículos e todos esses custos recaem sobre o trabalhador. O que antes fazíamos em 10 horas, hoje exige 15 horas”.

Os pedidos agrupados também estão a gerar revolta “o entregador faz sua entrega e, ao mesmo tempo, a entrega do seu vizinho. No entanto, a taxa recebida é considerada como se fosse uma única entrega, enquanto as empresas recebem o valor integral de ambas”.

Exigem ainda melhorias de segurança porque o número de acidentes tem vindo a aumentar e as empresas de aplicações online “são as únicas que não pagam o Seguro de Acidente de Trabalho”, havendo “entregadores com invalidez permanente ou temporária, problemas de saúde por esforço repetitivo, crises de depressão devido ao stresse constante e sobrecarga de trabalho. Isso é desumano”.

Ao mesmo órgão de comunicação social, Jr. Freitas, um dos fundadores da Aliança Nacional dos Entregadores de Aplicativos, sublinha que o primeiro objetivo é “mostrar a nossa indignação com a exploração feita pelos aplicativos”. Explica ainda que o principal alvo da ação é a iFood porque “a empresa tem mais de 80% do monopólio do mercado”. Ele sabe que “parar um ou dois dias, não consegue dar um prejuízo enorme para a empresa, mas é importante alertar a sociedade que somos uma classe que já vem sofrendo há muito tempo”.

Também ele sublinha o número de acidentes, muitos com consequências fatais, uma estatística que é “fruto da precarização”: “a gente tem que trabalhar 14 horas para atingir o objetivo que tem. E quanto mais precária fica a taxa, mais a gente tem que trabalhar, mais exposto e em vulnerabilidade a gente fica”.b

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