Salário mínimo, descontos para a Segurança Social, parâmetros justos de contabilização do trabalho efetuado, subsídio de refeição, indemnização pelo uso dos seus veículos e condições de saúde e segurança são as principais reivindicações dos trabalhadores que fazem distribuição de produtos e serviços das aplicações no Brasil. Esta sexta-feira e até domingo fazem greve depois de tentarem negociar com as empresas desde junho com a mediação do Ministério do Trabalho.
A paralisação foi convocada nacionalmente. Espera-se que seja mais forte em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal mas há grupos organizados em dez Estados e dispersos por várias associações e sindicatos.
A Deutsche Welle explica que estes trabalhadores pretendem ganhar, por hora em que estejam ligados à aplicação, um mínimo 35,76 reais, para condutores de automóvel e de motociclo, e de 29,63 reais para ciclistas. As contra-propostas das empresas ficam bem abaixo: 17 reais para motoristas e sete para ciclistas, valores que serão apenas por hora trabalhada e não por estarem disponíveis para o trabalhar nem nos períodos entre corridas. Alegam os patrões que os trabalhadores podem estar ao mesmo tempo ligados a diferentes plataformas.
O Brasil de Fato sintetiza as perspetivas de alguns dos grupos que se mobilizaram para esta greve. A Federação Brasileira de Motociclistas Profissionais, Febramoto, na sua página, escrevia ainda as negociações estavam a decorrer que “as associações que representam as empresas de aplicativos estão de brincadeira e não mostrando um pingo de preocupação pelas dificuldades e necessidades que os entregadores estão passando”.
Já a Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos, em vídeo divulgado nas redes sociais, considerava que “as empresas apresentaram uma proposta totalmente desrespeitosa” que “significa ganhar apenas quando se está com o pedido na mochila” ao passo que, defendem, “quando o trabalhador vai para a rua, vai para trabalhar. Então, consequentemente, ele precisa ganhar por hora logada”. Saúde e segurança são também preocupações “porque estamos cansados de ver os companheiros morrendo e sendo mutilados no trânsito”.
Dá-se conta ainda de uma nota das centrais sindicais CUT, UGT), Força Sindical, Intersindical, CTB, CSB e NCST que diz que estes trabalhadores são “os mais precarizados e que mais sofrem violências e acidentes no trabalho para atender a população”, não contando com “o reconhecimento por parte de seus empregadores”.
E o SindimotoSp, Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas Intermunicipal de São Paulo acusa as empresas de promover “a maior precarização trabalhista jamais vista no país” porque “fogem de todas as responsabilidades sociais, negam reiteradamente aumentos nas entregas – sendo 7 anos sem reajuste, e exploram os entregadores que não têm outra alternativa a não ser permitir esse abuso”, de comprar influenciadores digitais e agências de marketing “para práticas anti-sindicais”, de causar “desequilíbrio no setor das entregas rápidas porque não pagam impostos e direitos trabalhistas” e de estar “diretamente ligadas ao aumento de acidentes” que “têm causado mortes e comprometendo toda uma geração de jovens com sequelas físicas para o resto da vida”. Apela-se assim ao governo que “cumpra a promessa de campanha, acabando com essa precarização trabalhista e aumento de acidentes por conta da exploração que elas fazem, enquanto ficam bilionárias com o sangue dos trabalhadores”.
Estima-se que haja no Brasil 1,6 milhões de trabalhadores no setor: 386 mil nas plataformas de distribuição, 1,27 milhões a trabalharem como motoristas de aplicações de transporte de passageiros. A Uber, por si só, alega ter no país um milhão de trabalhadores. É um emprego altamente masculinizado, com perto de 97% de homens, na maioria com menos de 30 anos, no caso das plataformas de distribuição, e de 40, no caso dos motoristas.