Angola

Esta segunda devia ter havido greve de jornalistas, mas o tribunal proibiu

08 de setembro 2025 - 15:28

Os jornalistas dos órgãos de comunicação social públicos de Angola tinham previsto começar uma greve pelo pagamento de um aumento salarial que as administrações tinham aceite em acordo mas que não cumpriram. Um tribunal impediu a luta justificando que ficaria em causa o “direito à informação”.

PARTILHAR
Estúdio da TPA. Foto de divulgação.
Estúdio da TPA. Foto de divulgação.

O Sindicato dos Jornalistas Angolanos tinha marcado para esta segunda-feira o início de uma greve dos jornalistas que trabalham nos órgãos de comunicação social públicos e tutelados pelo Estado. Mas na passada sexta-feira, o Tribunal da Comarca de Luanda decidiu suspendê-la. A instância judicial deu assim razão a uma providência cautelar avançada pelas direções das empresas Televisão Pública de Angola, Edições Novembro (detentora do Jornal de Angola, Jornal dos Desportos, Jornal Cultura e Jornal Economia e Finanças), Agência Angola Press, Rádio Nacional de Angola , TV Zimbo e Grupo Média Nova (detentora do Jornal O País, Rádio Mais e Gráfica Dammer), considerando que a greve “viola” direitos dos cidadãos de se informarem e serem informados uma vez que não garantiria serviços mínimos. Uma tal paralisação, arguiu-se, “causaria prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação”, havendo ainda “forte probabilidade [de] ter havido por parte dos requeridos a violação da lei da greve”.

Por unanimidade, na semana passada, os jornalistas tinham decidido fazer uma greve interpolada em várias fases. A primeira iria decorrer entre 08 e 12 de setembro, depois de 09 a 19 de outubro, a seguir de 10 a 24 de novembro e, finalmente, entre 10 e 24 de dezembro.

A sua principal reivindicação era um aumento salarial de 58% a partir de agosto e com retroativos a junho e julho. Este estava previsto num acordo que tinha sido assinado em abril passado mas que não chegou a ser cumprido sem que os patrões tivessem, denunciou o sindicato, apresentado qualquer “justificativa formal” para isso.

Em resposta à decisão judicial, André Mussamo, secretário-geral adjunto, declarou à Rádio Ecclesia que o sindicato respeitaria a decisão, acescentando que isso “não quer dizer que nos conformamos com ela”. Garantiu ainda que esta não é “um fim da nossa causa”.

O mesmo jornalista, em entrevista à Deutsche Welle, justificava o processo de luta com as condições de trabalho “paupérrimas” destes profissionais”. Acrescentando: “só para ilustrar, há empresas de comunicação social que mandam os repórteres em serviço e é preciso a própria fonte interessada na matéria dar a boleia para o transporte desses jornalistas, além de facultar alojamento e alimentação no local onde eles vão trabalhar”.

Ao mesmo órgão de comunicação social, Luísa Rogério, da comissão executiva da Federação Internacional de Jornalistas e da Federação Africana de Jornalistas e presidente da Comissão da Carteira e Ética de Angola, mostrou-se “perplexa” com a decisão judicial, considerando que coloca em causa o direito à greve, sendo que esta “foi devidamente fundamentada” pela entidade que a convocou. A suspensão, julga, “é algo que, seguramente, os jornalistas não vão aceitar de ânimo leve”.

Pressões sobre jornalistas

Antes da decisão do tribunal, o Sindicato dos jornalistas tinha denunciado intimidação por parte dos conselhos de administração das empresas que estariam a criar listas de jornalistas que tinham manifestado apoio à greve. Tal é uma violação da lei da greve angolana.

Pedro Miguel, secretário-geral do SJA, explicara à RFI que o Sindicato dos Jornalistas Angolanos tinha tomado conhecimento, “com bastante preocupação, de denúncias provenientes de alguns filiados, segundo as quais os presidentes dos conselhos de administração e coordenadores estão a orientar a elaboração de listas dos trabalhadores que vão aderir à greve geral das empresas públicas de comunicação social ou sob tutela do Estado”.