“Execução”. Foi assim que Flávio Almada, do movimento Vida Justa, descreveu à Visão o que aconteceu na madrugada de 21 de outubro, na Cova da Moura. A Polícia de Segurança Pública (PSP) matou a tiro Odair Moniz, de 43 anos, pai de duas crianças, que conduzia o seu próprio automóvel, com a documentação em dia.
Nas ‘zonas urbanas sensíveis’, não é a primeira vez que acontece, e segundo Almada, é construida “uma narrativa de guerra”. “A polícia tem uma cultura de impunidade. É o morto que vai a julgamento na opinião pública”, diz.
Foi essa execução que levou os moradores do bairro do Zambujal, de onde era Odair Moniz, a protestar durante a noite da passada segunda-feira. Na rua e à janela gritou-se “justiça!”, e a comunidade saiu à rua em resposta ao ato de violência sem sentido pelas mãos da Polícia de Segurança Pública, bloqueando estradas e incendiando contentores.
Essa mesma Polícia de Segurança Pública verificou “situações de desordem” no bairro do Zambujal, que exigiam a “reposição da ordem pública”, segundo avança o Público. O bairro foi rapidamente cercado pelas forças de segurança, que mobilizou a Unidade Especial de Polícia para intervir, tendo sido recebida com o arremesso de vários objetos.
A intervenção da Polícia de Segurança Pública no bairro em luto provocou pelo menos um ferido entre os moradores. À SIC Notícias, um morador entrevistado diz que foi “agredido desnecessariamente, apontado com uma arma”. “O PSP perguntou-me se eu estava a olhar, e eu estava a olhar para eles porque ele me apontou a arma. Disse que sim. O colega, de trás com um bastão, agrediu-me duas vezes. Uma vez no ombro e uma vez na cabeça, que eu consegui defender com o braço”, disse.
A Polícia de Segurança Pública manteve o dispositivo securitário e o reforço de meios no bairro do Zambujal durante a manhã desta terça-feira. “Continuamos a acompanhar e a monitorizar todos os acontecimentos, sempre com o objetivo de acalmia de toda a situação e proteção dos moradores do bairro”, disse fonte oficial, que afirmou desconhecer casos de feridos, à Lusa.
Sobre o baleamento na Cova da Moura, a PSP admite que as circunstâncias serão apuradas “em sede de inquérito criminal e disciplinar”. O movimento Vida Justa recusa colocar a culpa sobre a vítima, e pediu para ser recebido pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco. Em comunicado, o movimento reforça que “os moradores dos bairros precisam de paz e não de serem assassinados” e para isso, é preciso que “se ponha cobro ao assédio e violência policial que sofrem as comunidades dos bairros”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, salientou esta terça-feira a necessidade de apurar o que aconteceu. "Até à conclusão do inquérito, os agentes envolvidos devem ser transferidos para funções administrativas", escreveu no X. "Compromisso com justiça e igualdade perante a lei. Impunidade para ninguém".