“A saúde é um direito, sem ela nada feito”, “Anos trabalhados não podem ser roubados”, “A luta continua nos serviços e na rua” foram alguma das palavras de ordem entoadas pelos enfermeiros à porta do Ministério da Saúde esta sexta-feira, no segundo dia das greves marcadas para esta semana. O presidente Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, disse à agência Lusa que a adesão à greve de hoje é superior aos valores registados no primeiro dia de greve, na quarta-feira, que rondou os 60%.
Os enfermeiros voltaram a exigir a reposição da paridade salarial da carreira de enfermagem com as carreiras de técnico superior e outros profissionais de saúde, da aposentação mais cedo, como mecanismo de compensação do risco e penosidade da profissão e a contratação de mais profissionais.
Entre os cartazes e faixas trazidas pelos enfermeiros para esta concentração à porta do Ministério da Saúde, eram visíveis as críticas também ao Ministério das Finanças, que é acusado de estar a despedir os enfermeiros que fazem falta ao SNS. Foi ainda aprovada uma moção em que o SEP afirma que “é inadmissível e intolerável que o Ministério da Saúde continue a não dar as necessárias e justas respostas aos problemas dos enfermeiros, a não apresentar propostas de solução e a não agendar reunião com o Sindicato dos Enfermeiros” e que foi entregue no Ministério.
Um grupo de enfermeiros da urgência do Hospital de Vila Franca de Xira presentes na manifestação mostrou as razões do seu descontentamento. “Ainda estamos a aguardar há dois anos pela assinatura do acordo coletivo de trabalho por parte do Ministério da Saúde e do Ministério das Finanças”, afirmou Marco Aniceto à Lusa. Uma situação que está a levar “ao desmantelamento do hospital”, uma vez que nos últimos dois meses saíram 10 enfermeiros só do serviço de urgência e há outros que vão sair em agosto, e ao “desmantelamento do serviço público de saúde para a população de Vila Franca de Xira”, alertou. Os que ficaram estão "neste preciso momento a fazer mais 50 horas extras do que aquelas que tinham de ser contratualizadas”, lamentou o enfermeiro.
Também Nuno Agostinho, enfermeiro no Hospital de São João, no Porto, fala de “uma sensação de injustiça enorme”, pois “ao contrário daquilo que o senhor ministro diz, os enfermeiros não foram valorizados. O que aconteceu foi a justa progressão em alguns enfermeiros”, mantendo-se a discriminação por exemplo nos dias de férias, com os enfermeiros com contrato individual de trabalho a terem menos dias de férias face aos colegas que têm contratos de trabalho em funções públicas.
Mariana Mortágua: "São estes profissionais que nos trazem as soluções para o SNS"
A coordenadora do Bloco esteve presente na concentração em solidariedade com as reivindicações dos enfermeiros, destacando que "são estes profissionais que nos trazem as soluções para o SNS".
"É preciso valorizar quem trabalha e carrega o SNS, mas o Governo faz o contrário: gasta cada vez mais dinheiro em tarefeiros, enquanto os profissionais que estão no SNS não têm as condições de trabalho que deviam ter", acusou Mariana Mortágua, sublinhando que tal como nos casos dos professores ou no dos médicos, os Ministérios "arrastam o problema" em vez de o resolver.
"O país deve a estes profissionais boas condições de trabalho. Mas o Governo prefere arrastar negociações, não chegar a acordo com os enfermeiros e gastar 140 milhões por ano a contratar tarefeiros", prosseguiu Mariana, concluindo que "não se pode pedir a alguém que ganhe mil euros por mês e que trabalhe turnos e horas sem fim, quando ao seu lado um tarefeiro que faz as mesmas funções com menos responsabilidades ganha mais".
Para a coordenadora bloquista, "mais do que incompetência, há uma estratégia do Governo para ir substituindo profissionais com direitos - e que são hoje a estrutura do SNS - por profissionais subcontratados, que são mais caros e prestam um serviço que não é tão bom por não estarem integrados em equipas".
"Se queremos ter um SNS que funcione, temos de perceber que temos de ter profissionais com qualidade nas suas funções" e por isso "a luta destes trabalhadores é a luta pelo SNS" que tem de ser apoiada, rematou.