Depois de a greve de 24 de maio ter mostrado a determinação dos enfermeiros do privado na luta por um Contrato Coletivo de Trabalho que lhes garanta “horários regulados, 35 horas semanais, aumento dos salários e dos valores das horas penosas e a compensação pelo trabalho por turnos”, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses convocou nova greve para esta terça e quarta-feira, acompanhadas de concentrações.
Dezenas de enfermeiros dirigiram-se esta manhã à sede da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), com palavras de ordem como “É urgente e necessário o aumento do salário”, “Têm lucros aos milhões para os enfermeiros só tostões” ou “35 horas para todos sem demora”.
“Se não houver negociação, naturalmente que vão prosseguir ações de lutas e ações reivindicativas porque os enfermeiros estão insatisfeitos e a prova disso são os bons níveis de adesão que estamos a ter na greve”, afirmou à agência Lusa o dirigente do SEP Rui Marroni. Ainda sem dados compilados dessa adesão, acrescentou que na CUF Tejo o piso 4 está em greve e que no Hospital Lusíadas Lisboa apenas um enfermeiro não aderiu à paralisação.
Esta adesão justifica-se por existir “muita indignação, muita insatisfação, não só porque a APHP não negoceia como está manter uma situação de horários desregulados, mais longos, penosos e sem compensações monetárias”, prosseguiu o sindicalista, contrastando os “lucros exponenciais” apresentados pelos hospitais privados com a situação dos 4.300 enfermeiros.
Um dos enfermeiros que se manifestaram à porta da associação dos hospitais privados, Luís Morais, disse à Lusa que são obrigados a cumprir um “ritmo de trabalho elevado”, porque há sempre “o interesse do lucro, que é do que vivem estes grupos privados”. E “quem fica a perder são sempre as pessoas”, pois esse ritmo transforma a enfermagem num “ato basicamente administrativo, em vez de ser a sua própria essência”.
Por seu lado, a APHP disse em comunicado estranhar a convocatória da greve, acusando o SEP de ter interrompido “inesperadamente as negociações”. Depois da paralisação nos distritos de Santarém, Lisboa, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro, a greve prossegue na quarta-feira nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Leiria e Coimbra, com nova concentração, desta vez no Porto, em frente ao hospital CUF Porto.
Federação Europeia de Sindicatos da Função Pública solidária com enfermeiros portugueses do privado
A greve dos enfermeiros do privado em Portugal contou com a solidariedade da Federação Europeia de Sindicatos da Função Pública (EPSU). Numa mensagem assinada pelo secretário-geral Jan Willem Goudriaan, a federação reconhece “a importância e a urgência das vossas reivindicações” e diz que esta luta “não é apenas uma questão nacional, repercute-se por toda a Europa”.
O líder da EPSU recorda ainda que recentemente os enfermeiros suecos “alcançaram um sucesso significativo na redução do horário de trabalho como resultado das suas greves e ações” e diz aos enfermeiros portugueses que “não estão sozinhos” nesta luta.