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Eleições na Eslováquia: governo arrasado nas urnas

O escândalo que levou à demissão do líder histórico da social-democracia, Robert Fico, acusado de cumplicidade no assassinato de um jornalista que investigava a corrupção no seio do governo, contribuiu bastante para o resultado eleitoral de sábado. Por Jorge Martins.
Igor Matovič, do OL’aNO
Igor Matovič, líder da direita conservadora do OL’aNO, tira uma selfie após o anúncio da sua vitória eleitoral. Foto OL’aNO/Facebook

As eleições do passado sábado, na Eslováquia, saldaram-se por uma fragorosa derrota da aparentemente estranha coligação que governou a Eslováquia nos últimos anos, constituída pelo social-democrata e populista Direção-Social-Democracia (SMER-SD), pelo Partido Nacional Eslovaco (SNS), da direita ultranacionalista, e pela Ponte (Most-Híd), partido liberal-conservador, representante dos setores moderados da minoria húngara (cerca de 12% da população do país), que se pretende multiétnico. Para tal, terá contribuído o escândalo que levou à demissão do líder histórico do SMER-SD, Robert Fico, acusado de cumplicidade no assassinato de um jornalista que investigava a corrupção no seio do governo, e à sua substituição por Peter Pellegrini.

Assim, o SMER-SD não foi além dos 18,3%, perdendo 10% dos votos face às eleições de 2016. Pior sorte tiveram os seus parceiros de coligação, que perderam mais de metade dos seus eleitorados de então e não ultrapassaram a cláusula-barreira de 5%, deixando de ter representação parlamentar.

Também o Movimento Democrata-Cristão (KDH) e o Partido da Comunidade Húngara (MKP-SMK), partido nacional-conservador, representantes dos setores mais identitários da minoria húngara, voltaram a não atingir aquele valor. Falhou, igualmente, a entrada no Parlamento o centrista Boa Escolha (Dobrá Volbá), do gestor e ex-ministro Tomáš Drucker.

Derrotada foi, igualmente, a presidente do país, Zuzana Čaputová, já que a coligação entre o seu partido Eslováquia Progressista (PS), de tendência social-liberal, coligado com o Juntos-Democracia Cívica (SPOLU), liberal-conservador e pró-UE, não foi além de 6,96% dos votos, ficando a 0,04% (!...) de ultrapassar a cláusula-barreira de 7%, exigida para as coligações.

A grande vencedora foi a coligação da direita conservadora, constituída pelo partido Pessoas Comuns e Candidatos Independentes (OL’aNO), social-conservador e populista, a Nova Maioria (NOVA), conservadora e eurocética, e duas pequenas formações: a União Cristã (KÚ), da direita católica, e a liberal-populista Mudança pela Base-União Democrática (Zmena Zdola, DÚ). O seu triunfo deveu-se muito à insistência do seu líder, Igor Matovič, na luta contra a corrupção durante a campanha eleitoral.

Na mesma área ideológica, obtiveram representação parlamentar a liberal-libertária e eurocética Liberdade e Solidariedade (SaS), apesar de ter perdido quase metade do seu eleitorado, e o novel Para o Povo (Za L’udí), liberal-conservador e pró-UE, formado pelo ex-presidente Andrej Kiska.

Ao contrário do que se temia, a extrema-direita pouco progrediu. O mais votado foi o “lepenista” Somos Família (Sme Rodina), do empresário Boris Kollár, que subiu ligeiramente, recuperando após a derrota nas europeias. Já o nazi-fascista Partido do Povo-Nossa Eslováquia (L’SNS), de Marian Kotleba, nostálgico do regime colaboracionista pró-nazi de Josep Tiszo, manteve a sua votação quase inalterada, contrariando a maioria das sondagens. Para isso, terá contribuído o aparecimento do VLASŤ (Cabelo), uma formação da extrema-direita pró-russa, formada pelo ex-candidato presidencial Štefan Harabin, que obteve quase 3% dos votos, na sua maioria conseguidos no eleitorado daqueles.

Finalmente, há a referir o desaparecimento do partido Rede (SIEŤ), formação de centro-direita, fundada por Radoslav Prohaska, que havia eleito 10 parlamentares em 2016. Atravessado por divergências interna, viu todos os seus representantes no Parlamento abandonar o partido, que mudou a sua designação para Partido Conservador Eslovaco (SKS), mas não concorreu ao atual ato eleitoral.

Eis os resultados, com a percentagem de voto e o número de lugares obtidos (entre parêntesis, os valores de 2016):

OL’aNO-NOVA+ (direita conservadora)  25,0 (11,0) - 53 (21)
Smer-SD (social-democrata)  18,3 (28,3) - 38 (49)
Sme Rodina (extrema-direita populista)  8,2 ( 6,6) - 17 (11)
N’SLS (extrema-direita nazi-fascista)  7,0 ( 7,0) - 17 (14)
PS-SPOLU (liberal, pró-UE)  7,0 (-) - (-)
SaS (liberal-libertário, eurocético)  6,2 (12,1) - 13 (21)
Za L’udí (liberal-conservador, pró-UE)  5,8  (-) - 12 (-)
KDH (democrata-cristão)  4,6  (4,9)
SMK-MKP (étnico húngaro, direita)  3,9 (4,0)
SNS (direita nacionalista)  3,2 (8,6) - (15)
DV (centrista)  3,1 (-)
VLASŤ (extrema-direita)  2,9 (-)
Most-Híd (étnico húngaro, centro-direita)  2,1 (  6,5) - (11)
SIEŤ (liberal-conservador)  - (5,6) - (10)
Outros  1,7 (4,4)

Os votos brancos e nulos representaram 1,2% do total. A participação eleitoral foi de 65,8%, uma forte subida face às eleições anteriores, em que não fora além dos 59,8%.

 

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