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Egipto: Protestos prosseguem apesar de demissão do governo

Manifestantes exigem demissão de Mubarak que tentou apaziguá-los dissolvendo o governo. Pelo menos 72 pessoas já morreram. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirma que Hosni Mubarak não é um ditador.
Foto Al Jazeera, FlickR

Milhares de manifestantes voltaram a tomar as ruas nas principais cidades do Egipto, na manhã deste sábado, pedindo a renúncia do presidente Hosni Mubarak. É o quinto dia consecutivo de protestos. O discurso de Mubarak, emitido pela televisão, e anunciando a demissão do governo, não parece ter tido qualquer efeito nos manifestantes, que insistem que o presidente, de 82 anos, que ocupa o cargo desde 1981, é que deve sair.

Por toda a capital, Cairo, as forças policiais atacam os manifestantes com gás lacrimogéneo e tiros de balas de borracha e reais. Durante a noite, o Exército tomou posição em torno de edifícios governamentais e outros, como o museu nacional do Cairo, que fica perto da sede do partido governamental e que foi incendiada pelos manifestantes na sexta-feira. Até agora, o Exército não interveio nas manifestações e os manifestantes aplaudiram os militares quando estes tomaram posição. Na cidade de Suez, o correspondente da Al Jazira ouviu de um oficial do Exército que as tropas não vão disparar uma só bala sobre egípcios, independentemente das ordens que cheguem e de quem as dê. O mesmo oficial disse que a única solução que via era a saída de Mubarak.

Demissão do governo

No primeiro pronunciamento desde o início das manifestações, Hosni Mubarak foi à televisão anunciar que decidiu dissolver o governo, e que vai nomear um novo gabinete ainda neste sábado.

Mas defendeu a actuação da polícia na repressão das manifestações e afirmou que não permitirá que o Egipto, país tão importante para o norte da África e o Médio Oriente, seja desestabilizado.

"Não é por incendiarem e atacarem edifícios públicos e privados que atingiremos as aspirações do Egipto e dos seus filhos, mas através do diálogo, da compreensão e do esforço", disse.

Enquanto Mubarak falava, milhares de manifestantes desafiavam o toque de recolher decretado no país na sexta-feira.

Mais de 70 mortes

Segundo as contas da Al Jazira, pelo menos 72 pessoas já morreram nas manifestações (23 mortes confirmadas em Alexandria, 27 no Suez e 22 no Cairo). Só nas manifestações desta sexta-feira, mais de mil pessoas ficaram feridas. Alguns dos corpos que deram entrada na morgue de Alexandria estavam brutalmente desfigurados.

Para o ex-director da Agência Internacional de Energia Atómica Mohamed El Baradei, que chegou ao Cairo na sexta para apoiar os protestos, o discurso do presidente Mubarak foi "praticamente um insulto à inteligência das pessoas." El Baradei foi posto sob prisão domiciliar pouco depois de chegar.

Biden diz que Mubarak não é ditador

Num discurso transmitido pela televisão logo depois do pronunciamento de Mubarak, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou ter conversado com o presidente egípcio, a quem pediu que respeite os direitos do povo egípcio e evite usar violência contra os manifestantes pacíficos.

Obama pediu a Mubarak que tome "medidas concretas que avancem com os direitos do povo egípcio" e cumpra as promessas de reforma no país.

"Certamente, tempos difíceis virão, mas os Estados Unidos vão continuar a defender os direitos do povo egípcio e a trabalhar com o governo do país para um futuro mais justo, mais livre e mais esperançoso", afirmou.

O Egipto é o quarto principal destinatário de ajuda americana, atrás apenas do Afeganistão, do Paquistão e de Israel.

Apenas um dia antes, o vice-presidente, Joe Biden, afirmara em entrevista ao programa NewsHour, da PBS, que Hosni Mubarak não é um ditador e não precisa deixar o cargo.

O apresentador do NewsHour, Jim Lehrer, perguntou a Biden se havia chegado a hora “de o presidente Mubarak, do Egipto, partir. “ Biden respondeu: ”Não. Eu acho que chegou o momento de o presidente Mubarak começar a mover-se na direcção de ser mais sensível a algumas das necessidades das pessoas lá fora”.

Perguntado se poderia caracterizar Mubarak como um ditador, Biden respondeu: “Mubarak foi um aliado nosso numa série de coisas. E ele foi muito responsável, em relação ao interesse geopolítico na região, por esforços de paz no Médio Oriente; o Egipto tomou medidas para normalizar relações com Israel… Eu não o chamaria de ditador”.

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