Brasil

Eduardo Bolsonaro diz-se perseguido, suspende mandato e foge para os EUA

20 de março 2025 - 17:30

Filho do ex-presidente diz que lutará por amnistia dos golpistas e contra um “regime de exceção” e por sanções “aos violadores dos direitos humanos”, os juízes do STF que julgam o caso. Jair afirma que este foi “combater o nazifascismo que avança sobre o nosso país”. Manobra surge depois da fraca mobilização da manifestação bolsonarista.

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Eduardo Bolsonaro. Foto de Lula Marques/ Agência Brasil.
Eduardo Bolsonaro. Foto de Lula Marques/ Agência Brasil.

Eduardo Bolsonaro, filho ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e deputado federal pelo Partido Liberal, anunciou nas suas redes sociais esta terça-feira que irá pedir suspensão do mandato e viver nos Estados Unidos. Segundo o próprio, irá aí “buscar sanções aos violadores dos direitos humanos”, ou seja contra aquilo a que chama a “Gestapo da polícia federal” e os elementos do Supremo Tribunal Federal que investigam a tentativa de golpe de Estado de 2022, na sequência da vitória de Lula. Estes decidirão na próxima semana se Jair se tornará réu no caso e surgem ainda descritos como “psicopatas” que prendem “mães de família, idosas, trabalhadores” inocentes.

Disse que vai lutar pela amnistia dos “reféns” de 8 de janeiro, ou seja os golpistas, e considerou que o país vive um “regime de exceção” que teria subvertido a democracia, pelo que promete lutar internacionalmente por “eleições limpas”.

Sobre o pai, afirmou ainda “não tenho dúvida de que o plano dos nossos inimigos é encarcerá-lo para assassiná-lo na prisão ou deixá-lo lá perpetuamente, assim como aconteceria com Donald Trump caso não tivesse sido reeleito agora em 2024”. Este, depois da decisão do filho, na cerimónia de abertura de uma exposição sobre o Holocausto em Brasília organizada pela comunidade judaica, justificou a ação como sendo para “combater o nazifascismo que avança sobre o nosso País”.

Ainda não se conhecem os termos do pedido de suspensão nem a sua justificação oficial. Mas deverá implicar, se for por período superior a 120 dias, a substituição pelo suplente, o “missionário” José Olímpio da Igreja Mundial do Poder de Deus. Este já tinha sido deputado por duas vezes e está filiado agora ao PL dos Bolsonaro depois de ter passado por pelo menos outros quatro partidos. Na sua carreira no cargo destaca-se a apresentação da um projeto de lei que visava proibir o implante de chips eletrónicos de identificação em seres humanos de forma a prevenir a implantação de uma “satânica Nova Ordem Mundial”. A Comissão de Constituição Justiça e de Cidadania acabou por arquivar o diploma.

Já depois desta publicação, em várias entrevistas,  Eduardo Bolsonaro declarou que iria pedir “asilo político” nos EUA. Ele viajou quatro vezes para este país só este ano, assim como tinha vindo a reunir com a extrema-direita de vários pontos do mundo. A última foi o mês passado quando esteve na CPAC, a conferência de movimentos ultra-conservadores, onde terá sondado Trump e os seus apoiantes sobre a possibilidade de aí se estabelecer. Nessa altura, os deputados do PT Lindbergh Farias e Rogério Correia e o próprio partido tinham pedido a apreensão do seu passaporte, acusando-o na Procuradoria-Geral da República de obstrução de investigação, coação no curso do processo e crimes contra a soberania e as instituições brasileiras. Esta terça-feira, o Procurador-geral da República, Paulo Gonet, manifestou-se em sentido contrário a este pedido, considerando que o pedido não tem “elementos informativos mínimos” sobre os crimes denunciados. E o pedido acabou por ser arquivado.

A manobra de Eduardo Bolsonaro é vista como um número político com pouca relevância mas segue-se a um facto mais significativo. O ex-presidente tinha convocado um comício no último domingo em seu apoio e contra a investigação sobre o golpe mas este acabou por mostrar dificuldades de mobilização popular neste campo da extrema-direita brasileira. Prometiam-se um milhão nas ruas mas uma análise de investigadores da Universidade de São Paulo contabilizou apenas 18 mil. E também outra aposta, o projeto de lei que pretende amnistiar os golpistas condenados pelo 8 de janeiro, continua bloqueado na Câmara e no Senado.

A saída de Eduardo do Parlamento fará com que seja a primeira vez em 34 anos que este não terá um elemento da família Bolsonaro nas suas fileiras, o que tem acontecido desde que Jair assumiu o cargo em 1991.