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É arriscado assegurar que Hiroshima seja irrepetível, defende Fernando Rosas

No dia em que passam 75 anos do bombardeamento de Hiroshima, António Guterres apela ao redobrar de esforços para acabar com as armas nucleares. O historiador Fernando Rosas alerta que "o mundo hoje está a correr um risco de guerra de grandes proporções”.
Manifestantes antinucleares seguram faixa junto ao Memorial da Paz de Hiroshima, 6 de agosto de 2020 – Foto de Dai Kurokawa/Lusa/Epa
Manifestantes antinucleares seguram faixa junto ao Memorial da Paz de Hiroshima, 6 de agosto de 2020 – Foto de Dai Kurokawa/Lusa/Epa

Há 75 anos, no dia 6 de agosto de 1945, o bombardeiro norte-americano “Enola Gay”, lançou uma bomba atómica sobre a cidade de Hiroshima, provocando a morte a cerca de 145.000 pessoas. Três dias depois, os Estados Unidos lançaram uma segunda bomba atómica sobre a cidade de Nagasaki, tendo morrido entre 60 mil e 80 mil pessoas.

No ato solene realizado no Parque da Paz da cidade de Hiroshima, o presidente da Câmara, Kazumi Matsui, criticou o governo japonês por este se recusar a assinar o tratado de proliferação de armas nucleares. Na comemoração deste ano, o ato que marcou o 75º aniversário do bombardeamento atómico teve a presença de 800 pessoas, um décimo do número de pessoas que participaram em 2019, devido à pandemia da covid-19.

"Apelo ao Governo japonês para que atenda ao apelo dos Hibakusha [as pessoas afetadas pela explosão] para assinar, ratificar e tornar-se parte do Tratado de Proibição de Armas Nucleares", disse o presidente da câmara, segundo a Lusa.

Este tratado foi aprovado na ONU em sete de julho de 2017 por 122 estados membros. Mas para que entre em vigor precisa de ser ratificado por pelo menos 50 nações, e até agora apenas 40 o fizeram. O Japão, assim como todas as potências nucleares, não participou nesta iniciativa. Este país adere ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que restringe a posse de armas atómicas, assinado em 1968, e que vigora desde 5 de março de 1970, há 50 anos.

Kazumi Matsui considerou que estes dois tratados são "instrumentos críticos para eliminar as armas nucleares" e defendeu: "Agora, mais do que nunca, os líderes mundiais devem reforçar a sua determinação para que este quadro legal funcione eficazmente".

No ato realizado em Hiroshima participou ativamente também o movimento antinuclear, como se pode ver na foto que publicamos.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por sua vez, assinalou a data no twitter pedindo o fim das armas nucleares:

"Assegurar que Hiroshima é irrepetível no mundo de hoje parece-me arriscado"

Em entrevista à TSF, o historiador Fernando Rosas considera que a possibilidade de um conflito nuclear, atualmente, é maior do que "se quer admitir".

“O mundo hoje está a correr um risco de guerra de grandes proporções, decorrente das novas disputas entre velhos imperialismos e imperialismos emergentes", afirma Fernando Rosas, alertando que "a possibilidade de um conflito de grandes dimensões degenerar num conflito nuclear é novamente muito maior do que aquilo que geralmente se quer admitir".

O historiador considera que a memória da destruição pode ser insuficiente para travar um tal desastre social, uma vez que "os ensinamentos que se tiram da guerra com os anos esquecem-se ou as circunstâncias fazem com que eles se diminuam ou se diluam".

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