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Dispositivo "anti-mendigo" instalado em bairro rico de Londres causa revolta nas redes sociais

Pequenos espigões de metal foram colocados na fachada de um conjunto de apartamentos para impedir que as pessoas sem-abrigo e pedintes permaneçam no local.
Espigões para afastar as pessoas sem-abrigo, num bairro rico de Londres

A instalação de dispositivos "anti-mendigos" em prédios de alto padrão no centro de Londres tem despertado uma série de protestos nas redes sociais. Esse tipo de alteração arquitetónica posta em prática para afastar pessoas sem abrigo e pedintes de certos locais da cidade é questionado pelos internautas, que classificam os dispositivos de "monstruosidade" e "absurdo".

A polémica começou depois de ter sido publicada uma foto mostrando os pequenos espigões pontiagudos embutidos na fachada de um conjunto de apartamentos, instalados para afastar os mendigos e impedi-los de dormir no local.

Compartilhada até à exaustão na web, a foto tornou-se viral e instigou o debate das medidas "anti-mendigos". Os mais críticos afirmam que estão a tratar os sem-abrigo "como pombos", comparando os dispositivos instalados aos utilizados para afastar as aves.

"Tinha uma pessoa sem-abrigo a dormir aqui acerca de um mês e meio atrás. Aí, há umas duas semanas, eles instalaram estes objetos. Acho que é para afastá-los", disse ao jornal britânico The Telegraph uma mulher que vive no conjunto de apartamentos.

Sob a hashtag "#AntiHomelessSpikes" ("espigões contra as pessoas sem-abrigo"), utilizadores do Twitter começaram a compartilhar fotos de outros locais da cidade em que esse tipo de dispositivo pode ser encontrado. Segundo instituições de caridade que atuam na área, a prática não é nova; pelo contrário, vem sendo usada há décadas para afugentar as pessoas sem-abrigo.

No vídeo abaixo, é possível ver uma investigação feita em 2003 por uma produtora francesa sobre "arquitetura anti-mendigo" na capital Paris. Aqueles que resistem são chamados de faquires, em referência ao termo do islamismo que diz respeito a pessoas pobres que peregrinavam por diferentes povoados praticando exercícios de resistência à dor, como deitar-se numa cama de pregos.

"É um escândalo que qualquer pessoa tenha que dormir na rua no Reino Unido em pleno século XXI. Mesmo assim, nos últimos três anos o número de pessoas sem-abrigo subiu fortemente no país inteiro, chegando a impressionantes 75% em Londres. Por detrás desses números, há pessoas reais lutando contra a falta de habitação e contra os cortes nos subsídios sociais que os ajudariam a reconstruir as suas vidas", assinalou Katharine Sacks-Jones, chefe da Crisis, ONG britânica que cuida de pessoas sem-abrigo no país.

Artigo publicado em Opera Mundi

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