Cortes na Saúde facilitaram contágio do Ébola, acusam enfermeiros espanhóis

07 de outubro 2014 - 0:37

Sindicatos e colegas da auxiliar de enfermagem que tratou dos missionários vindos da Libéria apontam o dedo ao “desmantelamento” do hospital que tratava doenças tropicais, bem como ao curso-relâmpago que receberam pouco antes da chegada dos doentes.

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O "isolamento" da zona do hoapital madrileno de La Paz, onde chegou o último caso suspeito de Ébola, escandalizou as redes sociais esta segunda-feira.

Segundo o Publico.es, a equipa hospitalar que atendeu os missionários infetados com o Ébola na Libéria recebeu um “curso” de apenas 15 minutos sobre os protocolos de segurança a adotar para evitar o contágio. O Hospital Carlos III deixou de ser um centro especializado em doenças infecionas e tropicais e os seus serviços têm vindo a ser “desmantelados”, acusam os trabalhadores do hospital. “Desmontar esse hospital foi uma loucura”, acusou Antonio Gomés, porta-voz da Coordenadora Anti-Privatização da Saúde Pública  de Madrid.

“Desmantelaram um centro preparado para este tipo de contingências e quando chegou o primeiro infetado nem sequer havia camas”, diz por seu lado a presidente da Associação Madrilena de Enfermagem.

“Desmantelaram um centro preparado para este tipo de contingências e quando chegou o primeiro infetado nem sequer havia camas”, diz por seu lado a presidente da Associação Madrilena de Enfermagem. Victoria Trujillo acrescentou ao Publico.es que desde o início surgiram alertas para a inexistência de protocolos e formação para lidar com esta doença: “não se consegue ensinar uma pessoa a vestir um fato tão complicado de vestir em apenas 20 minutos”.

Outros trabalhadores hospitalares falaram sob anonimato do “caos” e “descontrolo” do tratamento dos primeiros infetados. “Nem sequer existe um registo de quem trabalhou ou de quem não trabalhou junto deles”, denuncia um deles, falando também do clima de nervos e de medo entre os profissionais de saúde destacados para o andar do hospital onde foram tratados  Manuel García Viejo e Miguel Pajares, o primeiro a falecer.

“Deram-nos uns óculos muito grandes e largos que nos pareceram muito bons. Mas quando o doente faleceu começaram a poupar e trocaram os óculos por outros que apenas nos cobriam”, diz outro trabalhador. Também o presidente do sindicato dos médicos AMYTS veio lembrar as suas reticências quando o missionário chegou a Espanha para ser tratado, o que na altura classificou de “uma decisão política e não sanitária”, questionando se alguém poderia garantir a 100% se o vírus não escaparia do hospital.  

A ministra da Saúde espanhola veio a público dizer que ainda desconhece a origem do contágio à auxiliar de enfermagem que tratou de Manuel García Viejo, o segundo doente a falecer. Este é o primeiro caso de contágio de Ébola registado fora de África.

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