Racismo

“Condenação da Cláudia Simões prova que a justiça portuguesa tem cor”

02 de julho 2024 - 11:32

Em comunicado, a SOS Racismo diz que “o sistema tomou um lado” no julgamento de Cláudia Simões e o veredito “normaliza a violência policial racista”.

PARTILHAR
manifestantes com faixa em solidariedade com Cláudia Simões
Foto SOS Racismo/Facebook

A absolvição do agente policial Carlos Canha pelas acusações de agressões a Cláudia Simões e a condenação desta por ofensa à integridade física do agente indignaram quem viu as imagens do resultado do espancamento da mulher em janeiro de 2020 numa paragem de autocarro no concelho da Amadora.

A associação SOS Racismo tornou pública a sua indignação num comunicado em que começa por lembrar o apoio do então diretor da PSP Magina da Silva ao agente que agrediu Cláudia Simões para a imobilizar no chão. Um apoio que foi desde o primeiro momento uma “prova que a força do racismo estrutural está nas instituições”.  

Para a SOS Racismo, “se as instituições da República fossem sensíveis à ideia de igualdade plena e de justiça racial, Cláudia Simões teria sido cuidada e amparada pelo Estado em vez de ver todas as dolorosas sessões do seu julgamento serem transformadas num tribunal dos horrores, onde ela foi sistematicamente achincalhada, humilhada e discriminada e psicologicamente violento”. A associação diz que na sala de audiências “o racismo esteve sempre presente na violência psicológica, humilhação, difamação e inomináveis pressões que a procuradora da república, os juízes e advogados dos agentes agressores exerceram sobre Cláudia Simões e as suas testemunhas”, num exercício conjunto de “absoluta desumanização da Cláudia Simões”.

Por outro lado, enquanto insistiam que não estava a ser julgado um crime de racismo, “não deixaram de julgar o antirracismo” e na própria leitura da sentença, prossegue a associação, a juíza “voltou a atacar o movimento antirracista e as e os intelectuais que tiveram a coragem de denunciar a violência racista das agressões à Cláudia Simões e de apoiá-la”.

Pelo que assistiram desde o início deste caso judicial, “a expectativa de que perante um agente policial racista se viesse a fazer justiça por uma pessoa negra, mormente uma mulher negra, era quase nula. Porém, o que não se esperava era que o próprio tribunal se transformasse numa amplificação tão persistente da violência racial como se viu acontecer até ao fim do julgamento”.

A conclusão a tirar para a SOS Racismo é que “a condenação da Cláudia Simões é a prova de que a justiça em Portugal tem cor e que o racismo goza de proteção institucional”, pelo que “este veredito normaliza a violência policial racista”. A associação condena a “tentativa de silenciamento do movimento antirracista e de intimidação a ativistas e académicos que se mobilizam na luta contra o racismo e inerente violência” e continua disponível para continuar a luta ao lado de Cláudia Simões e conseguir “reverter esta inaceitável sentença”.

Termos relacionados: SociedadeRacismo