O Juízo Criminal de Sintra condenou esta segunda-feira Cláudia Simões e o agente Carlos Canha a penas de prisão suspensas. No acórdão, a juíza alega que Cláudia teria mordido o agente da PSP. Este foi condenado, mas por agressões a outras duas pessoas, Quintino Gomes e Ricardo Botelho, que tinham sido levados para a esquadra.
Cláudia Simões foi condenada a oito meses de pena suspensa por ofensa à integridade física qualificada e Carlos Canha foi condenado a de três anos pena suspensa. Dois outros agentes chamados então ao local, Fernando Rodrigues e João Gouveia, foram absolvidos do crime de abuso de poder. Defesa e acusação anunciaram recursos.
A advogada de Cláudia Simões disse ao Público não ter ficado surpreendida, “tendo em conta a grande animosidade da juíza para com a Cláudia [Simões] e com as testemunhas indicadas por ela”. Para a advogada Ana Cristina Domingues, “a justiça falhou em toda a linha. Eu atrevo-me a dizer que a juíza já tinha a decisão na sua cabeça antes de começar o julgamento. Mas temos o Tribunal da Relação de Lisboa. Obviamente, vamos recorrer”, avançou.
Na sentença a juíza escreve que “ninguém fez mal a Cláudia Simões. Cláudia Simões é que não quis pagar o bilhete à filha, deliberadamente atemorizou o motorista, recusou identificar-se, agrediu e empurrou. Serviu-se de impossíveis simulações e agressões. O choro da filha é à mãe que se deve”. De acordo com a juíza, os vídeos divulgados seriam “bem reveladores da atitude violenta e falsa” e que “não se encontrou qualquer motivação racista” por parte do polícia, acusando os cidadãos que assistiram à detenção de “idiossincrasias, preconceitos e pretensões” e considerando que o arguido Carlos Canha “atuou como se impunha, usando os movimentos estritamente necessários”.
Carlos Canha foi condenado apenas por ter agredido duas testemunhas que insistiu em levar para a esquadra. Nas palavras da juíza: “quando descomprimiu, acabou por ser impulsivo e fazer de saco quem nunca devia tê-lo feito”, um “grave abuso de autoridade”.
À porta do tribunal de Sintra expressou-se hoje solidariedade com Cláudia Simões. Manifestantes trouxeram faixas - “contra a justiça racista” e “violência policial mata” - e lançaram palavras de ordem como “punho em riste, Cláudia resiste” e “justiça racista não é justiça”.
Conhecida a sentença, uma das filhas de Cláudia Simões leu uma declaração em que assegurou que se ia continuar a lutar pelos seus direitos. “Estávamos longe de imaginar que, depois do que fizeram à nossa mãe, no dia 19 de Janeiro de 2020, ela fosse retratada neste tribunal como selvagem, arrogante e exagerada, mesmo perante todas as evidências. A vítima não pode ser transformada em culpada. Embora cansados, anunciamos que recorreremos desta sentença, pela minha mãe e por todas as pessoas que já estiveram ou possam estar a passar pela mesma situação”.
Recorde-se que naquele dia, Cláudia Simões tinha-se esquecido do passe da sua filha de oito anos e, depois de uma discussão, o motorista da Vimeca chamou a polícia. Quem interveio foi um agente fora de serviço e sem farda, que a acusa de ter recusado identificar-se. As imagens então divulgadas mostram sem margem de dúvida a ação do agente agarrando-a para a “imobilizar” e os efeitos indesmentíveis dos ferimentos causados. No carro-patrulha houve mais agressões, cometidas perante outros polícias, que ignoraram o que se passava.
Vamos relembrar o que sucedeu a Cláudia Simões.
Hoje um tribunal condenou a Cláudia a pena suspensa por agressão, tal como ao policia que a atirou ao chão, meteu o joelho na cabeça, puxou o cabelo e esmurrou.
Entretanto, continuará a ser policia.
pic.twitter.com/9h1rFflCA0— Vitor S. (@homemdasteclas) July 1, 2024