Chama-se News DayFr. É uma página de Internet em língua francesa que nasceu em 2021 e publica uma avalanche de cerca de 6.000 artigos por dia. Não produz conteúdo. É um site totalmente automatizado, repescando automaticamente artigos dos meios de comunicação legais. Ninguém sabe a quem pertence. Da página não constam as obrigatórias menções legais se fosse um órgão de comunicação social legítimo, indica telefones inexistentes em escritórios inexistentes nos EUA, Canadá, França e Itália e ninguém responde aos contactos por e-mail.
E não é caso único. O jornalista Jean-Marc Manach, da página de investigação Next, identificou cerca de um milhar de outras do mesmo tipo. Várias delas são influentes e bem sucedidas. Há 28 destas páginas no top 1.000 das páginas de notícias mais visitadas em França e três delas estão no top 100, segundo o Similarweb.
O News DayFr, por exemplo, teve no ano passado 1,1 milhões de visitas. É relativamente pouco, ocupando apenas 662ª posição daquele ranking. Mas, de qualquer forma, está indexado à versão francesa do serviço Google News e surge em várias revistas de imprensa, assim como é por vezes citado como fonte na Wikipedia.
Esta quinta-feira alguns dos principais grupos de comunicação social franceses decidiram agir judicialmente na tentativa de bloquear a página em território francês. Nesta ação juntam-se os grupos de comunicação La Dépêche du Midi, Sud Ouest, Publihebdos, La Montagne, Le Télégramme e La Nouvelle République du Centre, assim como o Libération. Juntos, representam cerca de 40 títulos.
A Aliança da Imprensa de Informação Geral francesa diz que a reação coletiva serve “antes de mais para estabelecer um quadro jurídico claro face à emergência de páginas utilizando a inteligência artificial para reproduzir massivamente conteúdos protegidos pelos direitos de autor”.
O News DayFr ganha dinheiro com publicidade difundida através do Google Adsense, para além de publicidade inserida através da empresa ucraniana MGID. Ambas as empresas, nos seus termos e condições, impedem a monetização em páginas que violem os direitos de propriedade intelectual.
O Libération questionou as empresas que recusaram fornecer pormenores sobre rendimentos ou a propriedade da página. Na sequência desta interpelação, a MGID informou que bloqueou a página e a Google que a desindexou do Google News. Na questão da publicidade não mexeu.
Devido à sua fraca audiência, os ganhos gerados apenas por esta publicidade serão relativamente baixos. O Libération estima que sejam “receitas mensais na ordem das centenas de euros”. Contudo, a página desdobra-se em várias línguas inglês, alemão, espanhol, italiano e francês e está ligada às redes dos sites postsen.com e on-24.com que republicam artigos para perto de quarenta países. Aquele diário francês conclui que isto é “o suficiente para garantir um rendimento mensal na ordem dos milhares ou mesmo dezenas de milhares de euros”.
