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Cientistas provam que Zika causa microcefalia

Cientistas da Universidade da Califórnia apresentaram uma hipótese de como o vírus Zika provoca microcefalia, pela sua capacidade de sequestrar uma proteína na superfície das células estaminais neurais. Outra equipa da Universidade de Helsínquia conseguiu isolar o vírus no cérebro de um feto.
Equipa de investigadores chineses fazem um exercício para simular um surto de Zika, foto de Yu Fangping/Lusa

O grupo de cientistas da Universidade da Califórnia publicaram na revista científica Cell Stem Cell um estudo em que mostram que o vírus do Zika consegue apropriar-se do recetor AXL da superfície das células estaminais neurais, que está normalmente envolvido na divisão celular, e, a partir dele, infetar as células.

As células estaminais neurais que expressam o receptor AXL só estão presentes no segundo trimestre de gravidez, daí o perigo de as grávidas serem infetadas precisamente nesse período. No entanto, segundo o autor sénior do estudo, Arnold Kriegstein, em declarações à Lusa, o AXL "não é o único recetor que foi associado à infeção por Zika”.

Os investigadores reconhecem que não é uma possibilidade de tratamento o bloqueio do AXL, pois tem uma função importante na multiplicação das células estaminais neurais, mas estão concentrados em encontrar uma forma de tratar mulheres com risco de infeção com um inibidor que impeça o vírus de entrar no feto.

Zika pela primeira vez isolado num feto

O jornal Público descreve outro estudo recente sobre o tema. Uma equipa da Universidade de Helsínquia publicou um artigo no New England Journal of Medicine em que descrevem como seguiram uma mulher grávida infetada com o vírus e observaram um subdesenvolvimento do cérebro no quinto mês de gestação. Após a interrupção da gravidez, a equipa conseguiu isolar o vírus no cérebro do feto, o que até agora nunca tinha sido conseguido e multiplicaram-no em células cultivadas em laboratório.

A equipa finlandesa, segundo o virulogista que liderou o estudo, demonstrou o segundo postulado de Robert Koch, que exige o isolamento do microorganismo do doente e a sua cultivação em laboratório. Koch foi um microbiologista alemão, que definiu os postulados para se provar que um agente patogénico é responsável por uma doença e que, entre outros avanços científicos, descobriu em 1882 o bacilo da tuberculose (também designado por bacilo de Koch).

A OMS ainda não declarou o vírus Zika como causador de microcefalia, mas, com estes dois novos resultados, a pressão para que o faça aumenta.

O atual surto de Zika já registou mais de um milhão e meio de casose o pais mais afetado é o Brasil, que confirmou recentemente 907 casos de microcefalia e a morte de 198 bebés devido a este problema congénito desde o início do surto. As autoridades brasileiras estão a investigar se a malformação é a causa de sintomas parecidos em 4.293 outros bebés.

O vírus é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, que existe em 130 países, e na maioria dos casos ou não provoca sintomas, ou provoca apenas sintomas gripais.

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