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China: "As mulheres trabalhadoras na primeira linha da luta contra o coronavírus"

As mulheres são a maioria do pessoal médico nos hospitais chineses e, durante a epidemia de coronavírus (Covid-19), estiveram na vanguarda da luta para conter a epidemia. Publicado em “China Labour Bulletin”
As mulheres estiveram na vanguarda da luta para conter a epidemia do Covid-19, mas o seu trabalho foi pouco valorizado em geral, assim como pouco foi feito para garantir a sua segurança
As mulheres estiveram na vanguarda da luta para conter a epidemia do Covid-19, mas o seu trabalho foi pouco valorizado em geral, assim como pouco foi feito para garantir a sua segurança

Em Xangai, mais de 90% das enfermeiras e 50% do pessoal médico que combate a epidemia são mulheres, de acordo com um relatório de 2 de março de 2020 da Federação das Mulheres de Xangai. E em Hubei, epicentro da epidemia, calcula-se que 100.000 mulheres trabalham na linha da frente do sistema de saúde.

No entanto, o seu trabalho foi pouco valorizado em geral, assim como pouco foi feito para garantir a sua segurança. Milhares de profissionais de saúde foram infetados com Covid-19 nos últimos dois meses; em primeiro lugar, porque as autoridades hospitalares não tomaram as devidas precauções e, depois, devido ao trabalho excessivo que leva à exaustão.

Em Wuhan, a enfermeira Guo Qin e os seus colegas só receberam fatos de proteção quando o número de casos confirmados chegou a 59. Era tarde demais. Guo Qin tinha estado exposta ao vírus porque o seu trabalho é recolher amostras de sangue e de expetoração. A 12 de janeiro de 2020, ela começou a ter febre e a sua infecção pelo Covid-19 foi rapidamente confirmada. No entanto, nessa data, as autoridades continuaram a afirmar que não havia casos de infeção entre os profissionais de saúde e que não havia provas claras de transmissão de pessoa para pessoa. Depois de recuperarem, no final de janeiro, Guo Qin teve que voltar ao trabalho devido à falta de pessoal em todos os hospitais de Wuhan.

As auxiliares de enfermagem, muitas das quais são migrantes rurais de meia-idade, correm um risco ainda maior que os médicos e que os enfermeiros diplomados, devido à qualidade inferior do equipamento de proteção que lhes é fornecido e à falta de instalações de tratamento para as que ficam contaminadas no seu próprio local de trabalho.

Uma assistente de enfermagem, Chen Cuilan, que trabalhava no Hospital Central de Wuhan há muitos anos, disse a Caixinglobal.com que, quando foi diagnosticada com Covid-19, foi obrigada a deixar o trabalho. No entanto, Chen não pôde dormir, como é costume, no hospital, devido ao risco de propagação da infeção. Juntamente com vários colegas, ela teve que dormir na rua durante três dias, antes de encontrar um lugar num dos refúgios da quarentena da cidade. A maioria das auxiliares de enfermagem na situação de Chen não sabe onde poderá ficar depois de o período de quarentena terminar, pois os hospitais em que trabalham e vivem continuam saturados com doentes infetados pelo Covid-19.

As jornadas de trabalho prolongadas e sob intensa pressão e a falta de equipamentos de proteção também se repercutem na saúde mental do pessoal médico. A Televisão Central da China informou que cerca de 30% das 1.596 enfermeiras do Hospital Renmin da Universidade de Wuhan sofriam de depressão e ansiedade.

Além das profissionais de saúde, as mulheres que trabalham nas comunidades e as profissionais de saneamento tiveram um papel fundamental na luta contra o Covid-19. Mesmo na construção, um setor maioritariamente masculino, as mulheres estiveram na vanguarda na construção dos hospitais de emergência em Wuhan. Em Huoshenshan e Leishenshan, por exemplo, as mulheres encarregaram-se da contratação, da preparação dos materiais e do design das estruturas. Muitas dessas mulheres usaram as redes sociais para divulgar o papel desempenhado durante as obras, que de outra forma teria passado despercebido. "Trabalhando com máscaras e capacetes, ninguém vê o seu sexo", disse um engenheiro assistente.

Apesar do papel essencial na luta contra a epidemia de Covid-19, as mulheres trabalhadoras têm sido frequentemente ignoradas pelas autoridades chinesas e pelos meios de comunicação oficiais. A Federação dos Sindicatos de Wuhan, por exemplo, publicou uma lista de 13 “trabalhadores modelo” na luta contra o Covid-19: dos 13, apenas quatro eram mulheres.

Antes do Dia Internacional da Mulher, a 8 de março (este artigo foi publicado a 5 de março: nota do tradutor), é essencial que os governos e os empresários reconheçam a contribuição das mulheres trabalhadoras e que os sindicatos comecem a assumir a sua responsabilidade de protejê-las mais seriamente neste momento crítico.

Como assinalamos no nosso artigo, publicado em chinês, sobre as trabalhadores da higiene e da limpeza (ver artigo em inglês: China: trabalhadoras de saneamento supostamente trabalham em condições adversas e de exploração), os sindicatos locais até agora não conseguiram responder às necessidades urgentes das mulheres trabalhadoras do setor da saúde em Pequim e Guangzhou.

Artigo publicado em Chine Labour Bulletin, tradução para espanhol por Correspondencia de Prensa e para português por Carlos Santos para esquerda.net

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