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Cazaquistão: dezenas de mortes e intervenção russa

O que começou por ser um protesto contra o aumento do preço dos combustíveis na passagem de ano acabou por se tornar num banho de sangue. A polícia do Cazaquistão confirmou que matou “dezenas” de pessoas em Almati, a maior cidade do país, e a televisão estatal informou que teriam morrido 12 elementos das forças policiais e militares e que 353 teriam ficado feridos. A agência noticiosa russa TASS cita o ministro da saúde cazaque que afirmou haver mais de mil feridos, 400 dos quais ainda hospitalizados e 62 nos cuidados intensivos.
Uma residência presidencial e o gabinete do presidente do município foram incendiados, assim como vários carros nas ruas. Usando carros blindados e aos disparos, os militares conseguiram voltar a controlar a praça principal da cidade. Também recuperaram controlo do aeroporto que tinha sido tomado por manifestantes. Como a Internet está cortada e a rede de telemóvel em grande medida inacessível, não se conhece nem a verdadeira extensão dos protestos nem da sua repressão.
Esta quinta-feira, paraquedistas russos começaram a chegar ao país cujo presidente, Kassym-Jomart Tokayev, pediu ajuda aos seus aliados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, a Rússia, a Arménia, a Bielorrússia, o Quirguistão e o Tajaquistão.
Tokayev sucedeu a Nursultan Nazarbayev que esteve no poder trinta anos. Tinha sido primeiro-ministro e secretário-geral do Partido Comunista do Cazaquistão e tornou-se presidente depois da queda da URSS. Há três anos abandonou o cargo mas continua a ser encarado como o verdadeiro líder.
O atual presidente tinha respondido aos protestos com a demissão do governo, com o anúncio de que o aumento dos combustíveis seria revertido e substituindo-se a Nazarbayev no cargo de presidente do Conselho de Segurança do Cazaquistão. Num país marcado pela riqueza do petróleo e dos recursos minerais, pelas grandes fortunas que contrastam com a pobreza generalizada, tal não foi suficiente para travar a ira popular. Não terá ajudado a acalmar os ânimos a declaração de Tokayev que descrevia os manifestantes como terroristas com treino no estrangeiro.
O Guardian cita Darkhan Sharipov, ativista do movimento Oyan, Qazaqstan, “Acorda Cazaquistão”, criado em 2019 na sequência de um outro protesto anti-governamental. Este justifica o sucedido: “as pessoas estão fartas de corrupção e nepotismo e as autoridades não ouvem… Queremos que o presidente Tokayev implemente reformas políticas verdadeiras ou saia e hajam eleições justas”.
Este movimento apresentou inicialmente como objetivos o fim da repressão política, a reforma da distribuição do poder entre os diferentes ramos do governo, a realização de eleições livres e a criação de um sistema democrático de governo local. A sua declaração de princípios inclui a recusa de cooperação “com qualquer partido ou movimento político” tanto no país como no estrangeiro.
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