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Carta Aberta afirma que Merkel não é bem-vinda

Um grupo de cidadãos dirigiu uma carta aberta a Angela Merkel em que acusa a chanceler alemã de vir a Portugal “interferir nas decisões do Estado Português sem ter sido democraticamente mandatada por quem aqui vive”, e de vir observar as ruínas em que a sua política deixou a economia portuguesa. A carta está aberta a quem quiser subscrevê-la.
Carta afirma que a chanceler alemã deve ser considerada persona non grata em território português

Os primeiros subscritores representam várias áreas políticas e atividades profissionais, de sindicalistas a académicos, de artistas a ativistas. A carta deixa claro que os subscritores não interpelam o povo alemão, “que tem toda a legitimidade democrática para eleger quem quiser para os seus cargos representativos”, mas recordam que o Wirtschaftswunder, o “milagre económico” alemão, foi construído “com base em perdões sucessivos da dívida alemã por parte dos seus principais credores”. Afirmam também que a suposta pujança económica alemã atual “é construída à custa de uma brutal repressão salarial que dura há mais de dez anos e da criação massiva de trabalho precário, temporário e mal-remunerado, que aflige boa parte do povo alemão”.

Quem quiser subscrever a carta pode fazê-lo aqui.

Leia a seguir o seu texto integral e conheça os primeiros subscritores.

CARTA ABERTA A ANGELA MERKEL

Cara chanceler Merkel,

Antes de mais, gostaríamos de referir que nos dirigimos a si apenas como chanceler da Alemanha. Não votámos em si e não reconhecemos que haja uma chanceler da Europa. Nesse sentido, nós, subscritores e subscritoras desta carta aberta, vimos por este meio escrever-lhe na qualidade de cidadãos e cidadãs. Cidadãos e cidadãs de um país que pretende visitar no próximo dia 12 de Novembro, assim como cidadãos e cidadãs solidários com a situação de todos os países atacados pela austeridade. Pelo carácter da visita anunciada e perante a grave situação económica e social vivida em Portugal, afirmamos que não é bem-vinda. A senhora chanceler deve ser considerada persona non grata em território português porque vem, claramente, interferir nas decisões do Estado Português sem ter sido democraticamente mandatada por quem aqui vive.

Mesmo assim, como o nosso governo há algum tempo deixou de obedecer às leis deste país e à Constituição da República, dirigimos esta carta diretamente a si. A presença de vários grandes empresários na sua comitiva é um ultraje. Sob o disfarce de "investimento estrangeiro", a senhora chanceler trará consigo uma série de pessoas que vêm observar as ruínas em que a sua política deixou a economia portuguesa, além da grega, da irlandesa, da italiana e da espanhola. A sua comitiva junta não só quem coagiu o Estado Português, com a conivência do governo, a privatizar o seu património e bens mais preciosos, como potenciais beneficiários desse património e de bens públicos, comprando-os hoje a preço de saldo.

Esta interpelação não pode nem deve ser vista como uma qualquer reivindicação nacionalista ou chauvinista – é uma interpelação que se dirige especificamente a si, enquanto promotora máxima da doutrina neoliberal que está a arruinar a Europa. Tão pouco interpelamos o povo alemão, que tem toda a legitimidade democrática para eleger quem quiser para os seus cargos representativos. No entanto, neste país onde vivemos, o seu nome nunca esteve em nenhuma urna. Não a elegemos. Como tal, não lhe reconhecemos o direito de nos representar e menos ainda de tomar decisões políticas em nosso nome.

E não estamos sozinhos. No próximo dia 14 de Novembro, dois dias depois da sua anunciada visita, erguer-nos-emos com outros povos irmãos numa greve geral que inclui muitos países europeus. Será uma greve contra governos que traíram e traem a confiança depositada neles pelas cidadãs e cidadãos, uma greve contra a austeridade conduzida por eles. Mas não se iluda, senhora chanceler. Também será uma greve contra a austeridade imposta pela troika e por todos aqueles que a pretendem transformar em regime autoritário. Será, portanto, uma greve também contra si. E se saudamos os nossos povos irmãos da Grécia, de Espanha, de Itália, do Chipre e de Malta, saudamos também o povo alemão que sofre connosco. Sabemos bem que o Wirtschaftswunder, o “milagre económico” alemão, foi construído com base em perdões sucessivos da dívida alemã por parte dos seus principais credores. Sabemos que a suposta pujança económica alemã atual é construída à custa de uma brutal repressão salarial que dura há mais de dez anos e da criação massiva de trabalho precário, temporário e mal-remunerado, que aflige boa parte do povo alemão. Isto mostra também qual é a perspetiva que a senhora Merkel tem para a Alemanha.

É plausível que não nos responda. E é provável que o governo português, subserviente, fraco e débil, a receba entre flores e aplausos. Mas a verdade, senhora chanceler, é que a maioria da população portuguesa desaprova cabalmente a forma como este governo, sustentado pela troika e por si, está a destruir o país. Mesmo que escolha um percurso secreto e um aeroporto privado, para não enfrentar manifestações e protestos contra a sua visita, saiba que essas manifestações e protestos ocorrerão em todo o país. E serão protestos contra si e aquilo que representa. A sua comitiva poderá tentar ignorar-nos. A Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu podem tentar ignorar-nos. Mas somos cada vez mais, senhora Merkel. Aqui e em todos os países. As nossas manifestações e protestos terão cada vez mais força. Cada vez conhecemos melhor a realidade. As histórias que nos contavam nunca bateram certo e agora sabemos serem mentiras descaradas.

Acordámos, senhora Merkel. Seja mal-vinda a Portugal.

Subscritores/as:

Alexandra Pereira, artista plástica, ativista PIIGS United In London Group

Alexandre Lopes de Castro, jornalista

Alfredo Barroso, escritor

Alice Brito, advogada

Alice Vieira, escritora e jornalista

Alípio de Freitas, jornalista, professor, Associação Abril, Associação Mares Navegados

Ana Campos, médica

Ana Carla Gonçalves, professora, ativista

Ana Feijão, arquitecta paisagista, ativista Precários Inflexíveis

Ana Luísa Amaral, poetisa, escritora, professora

Ana Maria Pinto, cantora lírica, ativista

Ana Nicolau, realizadora

Andy Storey, professor University College Dublin, Debtireland (Irlanda)

António Costa Santos, jornalista, escritor

António José Lourenço, dirigente associativo, ecologista

António Mariano, estivador, Sindicato dos Estivadores

António Melo, jornalista

António Monteiro Cardoso, jurista, professor universitário

António Pedro Dores, sociólogo, presidente da ACED

António Pedro Vasconcelos, realizador

António Serzedelo, Opus Gay

Belandina Vaz, professora, Protesto dos Professores Contratados e Desempregados

Bruno Cabral, realizador, dirigente CENA - Sindicato

Bruno G. M. Neto, coordenador de Advocacy, Medicos del Mundo

Carlos Antunes, resistente anti-fascista

Carlos Costu, ativista 15M London (Reino Unido)

Carlos Mendes, músico

Chris Nineham, secretário nacional Counterfire (Reino Unido)

Clare Solomon, vice-presidente Coalition of Resistance (Reino Unido)

Costas Lapavitsas, professor de Economia na SOAS - Universidade de Londres (Grécia)

Costas Todoulos, ativista Jubillee Debt Campaign London (Grécia)

Dan Poulton, escritor e comentador (Reino Unido)

Daniel Oliveira, jornalista

Eduarda Dionísio, reformada, Casa da Achada

Eduardo Costa Dias, sociólogo, Centro de Estudos Africanos, ISCTE

Eric Toussaint, presidente CADTM – Comité pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (Bélgica)

Esther Vivas, ativista social (Estado Espanhol)

Eugénio Rosa, economista

Fátima Rolo Duarte, designer gráfica

Fernando Rosas, historiador

Feyzi Ishmail, doutoranda SOAS, ativista Counterfire (Reino Unido)

Filipe Tourais,técnico de economia e finanças no Instituto Politécnico de Coimbra

Francisco Calafate Faria, investigador, ativista London Against Troika

Francisco Frazão, programador de teatro

Frederico Aleixo, ativista SOS Racismo

Guadalupe Portelinha, professora, Associação Abril, Associação Mares Navegados

Guadalupe Simões, enfermeira, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros de Portugal

Helena Neves, professora universitária, ativista feminista

Helena Pato, professora, Associação Não Apaguem a Memória

Inês Lourenço, investigadora CRIA

Irene Flunsel Pimentel, historiadora

Isabel do Carmo, médica

Joana Amaral Dias, psicóloga

Joana Campos, bolseira de investigação, ativista Precários Inflexíveis

Joana Manuel, actriz, ativista

Joana Saraiva, actriz, ativista

Joana Villaverde, artista plástica

João Alexandre Grazina, tesoureiro, Associação Abril

João Camargo, engº ambiente, ativista Precários Inflexíveis

João Leal, antropólogo, FCSH

João Reis, actor

Jorge Costa, jornalista

John Rees, escritor, autor do livro “Imperialism and Resistance” (Reino Unido)

José António Fernandes Dias, professor universitário, director do Africa.cont

José Gabriel Pereira Bastos, antropólogo, professor universitário aposentado

José Gema, fotógrafo

Lucía Gomes, advogada

Lucília José Justino, professora e ativista dos direitos humanos

Luís Bernardo, historiador, ATTAC

Luís Marques, antropólogo, ex-director da Director Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo

Luís Moutinho, Doutor em Química (UP), Professor Auxiliar no Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte

Luís Varatojo, músico

Luísa Ortigoso, actriz

Luísa Oliveira, socióloga, ISCTE, CIES

Magda Alves, socióloga, ativista feminista

Manuel Grilo, professor,vice-presidente do SPGL

Manuel Loff, historiador

Manuela Góis, ativista feminista

Manuela Tavares, ativista feminista

Marco Marques, engº florestal, ativista Precários Inflexíveis

Margarida Ferreira, ativista Occupy London

Margarida Paredes, antropóloga, escritora

Margarida Vale de Gato, professora, tradutora, poeta

Maria da Paz Lima, socióloga, docente universitária do ISCTE-IUL

Maria Isabel Barreno, escritora

Maria Teresa Horta, escritora

Michel Gustave Joseph Binet, Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa

Micol Brazzabeni, bolseira pos-doc, assembleia Popular da Graça

Miguel Cardina, Investigador CES

Miguel Tiago, geólogo

Myriam Zaluar, jornalista, ativista Precários Inflexíveis

Natalia Lopez, ativista 15M London (Reino Unido)

Nuno Ramos de Almeida, jornalista

Paula Marques, actriz, assessora autárquica

Paula Nunes, produtora

Paulo Granjo, antropólogo, ICS

Paulo Raposo, antropólogo, docente ISCTE-IUL, investigador do CRIA

Pedro Abrantes, investigador CIES-ISCTE/IUL

Raquel Freire, realizadora, ativista social

Ricardo Morte, empresário

Roberto Santandreu, fotógrafo

Ronan Mcnern, ativista Occupy London (Reino Unido)

Rui Bebiano, historiador, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais e Centro de Documentação 25 de Abril

Rui Dinis, músico, ativista

São José Lapa, actriz, encenadora

Sam Fairbairn, secretário nacional Coalition of Resistance (Reino Unido)

Sérgio Vitorino, ativista Panteras Rosa

Teresa Xavier, doutoranda, ativista socialista

Tiago Mota Saraiva, arquitecto

Victor Olmos, ativista 15M London (Reino Unido)

Virginia Lopez Calvo, ativista 15M London (Reino Unido)

Vítor Nogueira, economista e ativista dos direitos humanos

Organizações:

PIIGS United in London Group

Londres Contra a Troika

Occupy London

Greece Solidarity Campaign Coalition of Resistance (CoR)

15M London Assembly/ Real Democracy Now London

Coalition of Resistance (CoR)

Solidarity With The Greek Resistance - London

Wake Up (London)

ATTAC España

Grupo de Trabajo de Economía Sol del 15M de Madrid

Asamblea de Trabajadorxs de la UNIVERSIDAD AUTÓNOMA DE MADRID

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